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Outro dia coloquei um comentário sobre um computador PC antigo (o SOFTEC EGO PC) em uma das postagens do MCC – Museu Capixaba do Computador.

Depois deste evento, fui incentivado pelo Museu Capixaba do Computador a escrever algo sobre esta época. 😊

Nossa, me senti muito honrado. Será um artigo que irá me dar um prazer imenso (estou aqui no começo). Lembrar de histórias de como era neste período, e contar um pouquinho da história do PC e da minha própria história.

Bom, se você olhar na minha foto do LinkedIn perceberá que, ou estou muito modestamente conservado, ou alguma data não está combinando!

Pois bem, eu descobri muito cedo que gostaria de seguir uma carreira em eletrônica. Quando tinha em torno de 10 anos, costumava ir até a banca do “seu Jaime”, e comprava revistas “Nova eletrônica”.

Como ele era extremamente honesto, costumava ligar para minha mãe para perguntar se poderia vender ou não este tipo de revista para mim. Ahhh, e antes que alguém ache que tenho a presunção de me considerar um “gênio precoce”, me deixa falar algo. Eu comprava a revista, e olhava para os esquemas publicados, mas não entendia absolutamente nada! Mas era apaixonado pelos desenhos, sabia que um dia iria entender o que estava ali.

E de fato, fiz um curso de técnico em eletrônica, embora infelizmente nesta época não fosse ensinado microprocessadores. Aprendi muito sobre portas lógicas e álgebra booleana.

E finalmente chegou o período de fazer um estágio. O meu primeiro estágio foi exatamente em uma empresa estranha chamada Softec Engenharia de Sistemas. Ela era a fabricante do primeiro PC fabricado no Brasil, chamado EGO PC!!!

Olha só a folha da minha carteira de trabalho desta época, em 1984!

Testemunha Ocular SOFTEC EGO PC por Glauco Reis 2
Minha carteira de trabalho

E olha a belezura que eles construíam do lado direito! Infelizmente não tenho fotos da época, embora por algum tempo tivesse esta lindeza aí. Assim como o Museu Capixaba do computador, eu também adoraria ter um destes que ainda estivessem vivos.

Bom, um estagiário técnico em eletrônica não faz coisas muito nobres, sabe? Kkkkkk. Eu era o técnico que montava este monitor lindo da foto. Mas, sabe aquele ditado “por fora bela viola, por dentro, pão bolorento”? Acho que se aplica a este monitor aí. Talvez na foto não seja possível ver, mas da metade para trás ele era preto, e tinha um pedaço na frente com um acabamento bege claro, e um acrílico fumê que escondia a dura realidade.

Nesta época, não existiam fabricantes de monitores pessoal! A única alternativa era usar uma televisão colorida. E as TVs tinham seletor de canal! What?! Sim, mudávamos as TVs de canal girando um botão e precisava se levantar da poltrona para fazer isso, kkkkk.

Estão vendo aquelas “ranhuras” no monitor, logo acima do logo EGO? Então, o que fazíamos nesta época, e esta era minha tarefa, era fazer como um peixe na feira, retirando as “tripas” da TV (que era a parte do seletor de canais e circuito de RF) e disponibilizávamos na traseira uma entrada do tipo RGB com um conector DB15 (conector CGA).

O problema é que depois de arrancar as tripas, ficava um buraco horrível na frente, exatamente onde retirávamos o seletor. Este flange bege trazia um ar de profissionalismo ao projeto. E, ainda tem mais, na frente do tubo tinha um acrílico fumê, para evitar que alguém olhasse “pelo ladinho” e encontrasse os buracos deixados. Mas, olhando a foto, era perfeito e lindo para a época!

Aliás, não dá para não pensar que o LOGO teve inspirações no logo da IBM, certo?

Testemunha Ocular SOFTEC EGO PC por Glauco Reis 3
Uma mera coincidência de marcas?

O EGO era um IBM PC “compatível”. Praticamente idêntico, mesmo circuito. Ele era um Intel 8088, com 4,77Mhz e vinha com 64K ou 128K, podendo aumentar até 640K. Nesta época, o processador Intel 8088 somente suportava 1MB de memória, mas tinha a memória de vídeo e a BIOS, então não dava para ir além de 640K. Somente algum tempo depois criaram um mecanismo chamado EMS (Expanded Memory Specification).

Na prática eram “páginas” de memória que eram chaveadas por software, o que permitia que tivéssemos muito mais memória, usando uma página de cada vez. Mesmo com a chegada dos IBM PC/ATs, que já utilizavam o processador Intel 80286 e dispunham de um modo protegido que endereçava muito mais memória, os softwares não estavam preparados rodar no modo protegido.

O MS-DOS e o CP/M-86, por exemplo, só funcionavam no modo “real”, endereçando os mesmos 1MB do 8088 original. Isto foi feito pela Intel para permitir compatibilidade com softwares criados até em então. Hoje esquecemos completamente do modo real, e todos os programas já entram no modo protegido!

Continuando minha história, a Softec se dividiu em duas empresas, uma chamada Sector e outra continuou com o nome Softec. Eu fui para a Sector, mas foi a minha oportunidade para migrar para o ambiente de “desenvolvimento”.

Ele está entre aspas porque quase nada era desenvolvido neste período. Tínhamos a reserva de mercado, e os fabricantes nacionais eram protegidos do mercado americano, e muito da eletrônica era copiada e autorizada a vender no país.

Para tornar tudo legalizado, eram criados os chamados “projetos SEI”, onde SEI significava Secretaria Especial de Informática. Eu mesmo criei um projeto SEI. Mas conto esta história alguns momentos adiante.

Quando fui para o desenvolvimento, muito do que eu fazia era testar as placas do PC que eram montadas. Nada muito nobre como desenvolver tecnologias de ponta. Mas tinham algumas coisas muito curiosas.

A eletrônica neste tempo era cara. Muito cara mesmo. Uma das coisas que o PC tinha que fazer era usar um chip da Intel, o 8237 (um processador de DMADirect Memory Access).

Este chip fazia uma coisa muito simples, permitia acesso direto a memória, independente do processador. Ele usava este recurso para fazer o refresh da memória dinâmica. Uma memória dinâmica era muito mais barata do que uma estática, mas tinha um problema, você precisa ficar acessando-a a toda hora para que o conteúdo seja regravado (refresh) e não se perca.

Uma memória RAM desta época era formada por dois sinais chamados RAS e CAS (Row e Column Address Strobe). Os dois sinais precisam ser gerados em uma sequência muito precisa, de alguns nanosegundos de diferença entre eles. Na época, o circuito que fazia isto era chamado “delay line”.

Era um chip muito preciso, que gerava um atraso necessário entre o RAS e CAS. O problema é que este chip era raro, muito raro. Era difícil importar, difícil de encontrar e muito caro.

O que fazíamos então era ligar várias portas em sequência, para que um atraso fosse criado artificialmente. O problema é que as portas lógicas variavam o atraso com a temperatura, e com o lote do componente. Portanto, muito do meu trabalho era ficar colocando uma, duas, três, quatro portas na sequência até que o atraso ficasse preciso e tudo funcionasse. Imagine fazer isto uma, duas, dez, cem, mil vezes! Kkkkkk. Era um trabalho digamos “ingrato”.

Eu também tenho uma outra história inacreditável, mas de uma empresa em que trabalhei depois, chamada MIPS Microinformática. Para explicar o ocorrido, preciso falar um pouco mais sobre os PCs. Os circuitos nesta época eram instáveis.

Um cuidado que a IBM fez ao criar o PC foi inserir um BIT de paridade. Ao invés de guardar 8 bits ou um BYTE, o PC tinha 9 BITS. Cada byte gravado calculava o número de 1’s, e garantia que a paridade sempre tivesse um mesmo valor (não me lembro se par ou ímpar).

Quando se lia o byte de dados, ele fazia a conta inversa, e se a paridade não fosse calculada corretamente, o PC era colocado em modo HALT (travado). Com a evolução dos circuitos integrados, eles acabaram ficando mais precisos, e a necessidade do cálculo do BIT de paridade passou a ser algo desnecessário, e que raramente dava problema. Nesta empresa, a MIPS, eles simplesmente eliminaram o circuito de paridade, mas mantiveram o chip extra de memória para parecer que a verificação estava presente. Como eu sei disto? Bem um dia eu me esqueci de colocar o chip extra, e liguei a placa sem querer. Ela funcionou perfeitamente!!!

Mas vamos voltar para a Sector! Bem depois eu “evolui” como desenvolvedor de ponta. Criei um projeto SEI. O que era isto? Um projeto SEI eram os esquemas eletrônicos e todo FIRMWARE de uma placa que desejássemos produzir no Brasil. Acho que a Secretaria Especial de Informática não tinha muitas pessoas qualificadas para fazer análises muito profundas, ou não tinha gente suficiente para atender a demanda, o que abria espaço para que a documentação criada fosse superficial.

Eu criei um projeto SEI para uma placa chamada IRMA. Ela era um emulador de terminal IBM 3278, que permitia que um PC funcionasse como um terminal de um computador de grande porte tipo Mainframe. O processo de criar a documentação partia de uma placa IRMA original, de onde “levantávamos” o circuito.

Primeiro removíamos todos os componentes da placa. Depois, medíamos pino por pino da placa, descobrindo quem estava ligado com o quem. Era um trabalho insano, de meses, e que gerava o circuito original. Tinha uma pessoa na empresa que fazia esta atividade.

Do outro lado, precisávamos da BIOS. Mas ela estava gravada em uma memória tipo EPROM! A minha incumbência foi criar um programa em BASIC, que lia byte a byte da EPROM, e convertia para um texto que representava cada instrução em linguagem de máquina do 8X305 (processador utilizado na IRMA). Ou seja, um desassemblador.

Ele gerava um TXT com todas as instruções transcritas. Mas isto somente não era suficiente para a SEI. Depois de desassemblar, eu pegava instrução por instrução, e “tentava” colocar um comentário que explicasse o que a instrução fazia. As vezes eu entendia o que estava acontecendo, mas outras vezes não tinha a menor ideia do que acontecia com aquela instrução. Se fosse possível usar outra instrução ou criar um código diferente, mudávamos ligeiramente o firmware para não parecer que foi copiado!

Juntávamos isto em um caderno com o esquema, firmware e um texto descritivo, enviávamos para Brasília, onde ficava a SEI (Secretaria Especial de Informática) e esperávamos a aprovação para começar a produzir a nossa placa IRMA.

Nossa Glauco, mas então nada foi criado? Olha não vamos desmerecer completamente a informática neste período. Tínhamos algumas empresas que procuravam criar coisas novas com o processo. A ITAUTEC, por exemplo, produzia circuitos integrados no Brasil, e tinham até uma tecnologia de ponta.

Alguns programas muito bons foram criados genuinamente no país também. Vou dar um exemplo que me traz muito orgulho, e que foi genuinamente criado no país. Vou comentar este porque foi o que vivenciei na época, mas certamente houve outros.

Eu e meu amigo Sérgio Bueno sentimos um orgulho imenso ao criar este projeto que vou explicar aqui. Ele se chamava Inteligência78. Não porque foi criado em 1978, mas porque estava relacionado a um terminal IBM 3278. Este aqui abaixo.

Testemunha Ocular SOFTEC EGO PC por Glauco Reis 4
O terminal IBM 3278 e um computador IBM PC

Este bichinho da esquerda (que hoje tenho um teclado comprado no Mercado Livre) era um terminal burro para interagir com mainframes IBM. Ele usava um cabo coaxial que transmitia dados com um protocolo de comunicação chamado Manchester, e apresentava uma tela de processamento de um Mainframe IBM.

Na época em que criamos o Inteligência78, já existiam placas IRMA. Uma placa IRMA era colocada em um PC, e fazia com que um PC imitasse um 3278, a um custo mais baixo. É a imagem do lado direito. Ou seja, tínhamos um terminal que se comunicava com o Mainframe, e tínhamos uma placa que, quando colocada em um PC, fazia ele simular um 3278.

A proposta do Inteligência78 era transformar um IBM 3278 em um PC. Como assim? Tá vendo a tela daquele terminal do lado esquerdo? Ao invés de aparecer telas do mainframe, ele mostrava telas de um PC. Podíamos executar programas e usar o vídeo e o teclado do terminal como se fossem um PC. Não existia um projeto parecido com este no mundo.

E como fizemos esta proeza?  

Bom, primeiro precisamos ir atrás de uma documentação que provavelmente hoje não existe mais. A documentação do protocolo Manchester. Nesta época não tinha o Google, nem de longe! Cavamos aqui, cavamos ali, e conseguimos com a IBM este documento aqui:

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EAD Logo Taking too long?

Reload Reload document
| Open Open in new tab

Ele explica todo protocolo Manchester para fazer aparecer caracteres e ler teclas do 3278. O Inteligência78 foi criado de forma a juntar uma implementação por software misturada com uma implementação por hardware.

O teclado era lido com um programa residente. Era como que um vírus de computador, mas um vírus benigno. Ele pegava as teclas digitadas no 3278, e colocava no buffer do teclado do PC. Ou seja, tudo que fosse digitado no terminal era usado como teclas do PC.

Claro que tinha uma conversão, já que o 3278 não usava os mesmos códigos do PC. Era um negócio chamado EBCDIC. E depois construímos um circuito eletrônico que era espetado em um slot do PC, e fazia o seguinte: Uma placa CGA em modo texto mapeia o vídeo para o endereço B8000.

Capturávamos qualquer acesso neste endereço, convertíamos, através de uma eletrônica que criamos genuinamente, o endereço e o caractere que estava sendo escrito para comandos que eram enviados para o 3278 e apresentávamos no terminal.

Quase choramos (acho que choramos mesmo) quando fizemos um programa chamado SIDEKICK aparecer no terminal 3278.

E porque ninguém conhece o Inteligência78?

Bom, foi uma falta de visão de mercado. O que tínhamos de espertos em informática, tínhamos também de falta de visão para o futuro. Os terminais 3278 eram muito caros, e rapidamente foram substituídos por placas IRMAS em PCs. A IBM parou de produzir os terminais, e nossa placa precisava do terminal para funcionar.

Acho que foi um projeto lindo, mas que rapidamente foi substituído pela tecnologia. Só nos restou aquela lembrança de ter criado algo que nunca foi conhecido!

Enfim, estas são pequenas histórias da chegada do PC no Brasil. Todas verdadeiras, e que mostram como a informática se consolidou por aqui.

Depois da Softec e da Sector, surgiram centenas de outras empresas fabricando PCs, como a Scopus, Itautec, e muitas outras! Os PCs evoluíram para os ATs ou 286, depois 386, e por aí vai.

Neste momento, logo na chegada do PC, eu já havia migrado para o mercado de software, portanto esta foi toda a vida que tive com a eletrônica! Espero que vocês tenham gostado deste texto, porque me emocionou a lembrança deste período!

Testemunha Ocular SOFTEC EGO PC por Glauco Reis 5
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