O órgão Hammond de 1935

Em 15 de abril de 1935, Laurens Hammond apresentava publicamente o Órgão Hammond, o instrumento musical eletromecânico que transformaria para sempre o mundo da música, tornando-se um dos precursores dos sintetizadores modernos.
No início da década de 1930, o mundo passava por uma catastrófica crise econômica desencadeada pelo colapso da Bolsa de Valores de Nova York ocorrida em 1929. Este período, que se estenderia por mais de uma década, foi marcado por uma recessão severa, com altas taxas de desemprego, falências em massa de empresas e bancos, além de uma queda drástica na produção industrial e no comércio internacional.
Neste cenário, a necessidade por soluções “acessíveis” economicamente crescia nos mais diversos setores, o que com a música não seria diferente.
Entra em cena o visionário engenheiro Laurens Hammond, que embora já comercializasse com relativo sucesso relógios e dispositivos embaralhadores de cartas (através de sua empresa Hammond Clock Company), vinha percebendo que seus negócios começavam a declinar com a recessão econômica, obrigando-o a buscar outras possibilidades.

Hammond decide então aplicar seus conhecimentos em mecânica e eletricidade para criar um tipo de instrumento musical que se colocasse como uma alternativa mais econômica aos caríssimos e gigantescos órgãos de tubos tradicionais (daqueles utilizados em antigas igrejas), fazendo nascer uma invenção que mudaria para sempre a história da música: o Órgão Hammond.
Seu grande diferencial estava na forma com que produzia sons, que em vez da passagem de ar por tubos metálicos ou de madeira, como os órgãos tradicionais, utilizava um mecanismo de “rodas de tons” (tonewheel) ou “rodas fônicas”, inspiradas nos modelos de motores síncronos desenvolvidos por ele e utilizados nos relógios elétricos que fabricava.
Nelas, um sistema de engrenagens movia pequenos discos de metal que, girando próximos a captadores eletromagnéticos (como os de guitarras), produziam uma rica gama de sons, com muito menos custo e menos necessidade de manutenção que os anteriores modelos de tubo. Esse sistema, associado a controles deslizantes que ajustavam a mistura de vários harmônicos, permitia que, conectado a amplificadores externos, os músicos criassem uma ampla variedade de timbres diferentes. Um precursor dos futuros “sintetizadores eletrônicos”. 🎹🎚️🎛️🎶
Com uma patente registrada em 19 de janeiro de 1934 e concedida em 24 de abril de 1934, sob a denominação de “instrumento musical elétrico“, o órgão Hammond modelo A (apresentado publicamente no dia de hoje no Industrial Arts Exhibition em Nova Iorque) contava com dois teclados de 61 teclas (5 oitavas) posicionados em níveis distintos, uma pedaleira de madeira de 25 notas (graves) e um pedal de expressão (que controlava o volume).

O sucesso foi imediato. Iniciada a comercialização em junho de 1935, mais de 1750 igrejas comprariam órgão Hammond nos três anos seguintes, chegando a um pico de produção de mais de 200 instrumentos mensais pelo final da década. Em meados dos anos 60, os números já somavam 50mil unidades em igrejas de todo o mundo.
O Órgão Hammond rapidamente ultrapassaria seu propósito original de atender ao segmento religioso. Embora nunca tivesse sido o foco original de Hammond, seu invento se tornaria por décadas um dos instrumentos de teclado preferidos por diversos músicos de vários gêneros musicais, do jazz ao heavy metal.
Um dos modelos mais icônicos da marca, o Hammond B-3, lançado em 1954, se tornaria a escolha definitiva para músicos de jazz, blues, rock e soul. Combinado ao famoso alto-falante Leslie, que adicionava efeitos tipo “chorus”, “trêmolo” e “vibrato” ao som, o modelo B-3 (dentre outros) ajudaria a definir o timbre de artistas como Jimmy Smith, Jon Lord (Deep Purple), Keith Emerson (Emerson, Lake & Palmer) Gregg Allman (Allman Brothers), Rick Wakeman (Yes) e Booker T. Jones (Booker T. & the M.G.’s).

Dezenas de outros modelos foram criados aos longos dos anos, que podem ser conhecidos aqui neste endereço.
Durante as décadas de 1960 e início de 1970, o som do Hammond se tornaria onipresente, aparecendo em gravações icônicas e se consolidando como um dos instrumentos mais expressivos da música moderna. Mesmo com o surgimento dos primeiros sintetizadores e dos teclados eletrônicos, o apelo sonoro do Hammond permaneceria forte.
Sabe aquele órgão emblemático da música “A Whiter Shade of Pale” da banda inglesa de rock Procol Harum? É um Hammond. 😊
Nos anos 1970, contudo, sintetizadores e órgãos eletrônicos começariam a dominar o mercado, reduzindo as vendas da empresa. A Hammond tentaria se manter atualizada tecnologicamente para fazer frente à concorrência, lançando modelos “transistorizados” e posteriormente utilizando circuitos integrados. Mas sem muito resultado.
Tentando salvar seu negócio, Laurens Hammond (agora milionário) proporia em 1972 (um ano antes de sua morte) à recém fundada empresa japonesa Roland a compra de uma participação majoritária, oferta recusada por seu fundador Ikutaro Kakehashi.
Sem muitas perspectivas, pouco mais de uma década depois, em 1985, a Hammond Organ Company viria a encerrar definitivamente a produção dos modelos originais.
Década em que a música pop e eletrônica explodiria em popularidade, os anos 80 foram dominados por modelos de teclados eletrônicos como o Yamaha DX7 e o Roland D-50, desejados por 10 entre 10 músicos da época. Dispositivos portáteis, leves e que podiam reproduzir, de forma muito similar, o som dos antigos órgãos.
Os pesados e volumosos órgãos Hammond virariam assim sucata, esquecidos e abandonados pelas igrejas, estúdios musicais e, fatalmente, em muitos lixões pelo mundo.
Ainda assim, a saga da Hammond estava longe de terminar!
Após uma rápida passagem pela Austrália, com sua venda em 1986 para a Hammond Organ Australia, a marca chegaria finalmente às mãos da japonesa Suzuki Musical Instrument Corporation, que decidiria por manter parte da equipe americana de projeto e fabricação, agora sob a nova marca Hammond-Suzuki.
Assim, apesar dos altos e baixos, o órgão Hammond não desapareceria. Nos anos 1990, a marca seria relançada com versões digitais que emulavam fielmente o som do lendário Hammond B-3, com versões modernas, como o Hammond SKX e o Hammond XK-5, assando a ser utilizados por uma infinidade de artistas em todo o globo.

Entretanto, mesmo com as grandes mudanças tecnológicas, como o advento dos instrumentos digitais e da interface MIDI, os órgãos Hammond originais hoje são altamente valorizados por muitos músicos, que preferem seu som autêntico e orgânico, ao das versões digitais atuais.
Com quase um século de história, estima-se que a Hammond Organ Company tenha produzido por volta de dois milhões de órgãos, permanecendo como um dos instrumentos mais influentes já criados, provando que sua sonoridade única e versatilidade continuam relevantes para músicos de todas as gerações.
Embora nos pareça irônico afirmar que um instrumento musical projetado para “imitar” centenas de outros, seja capaz de, ao mesmo tempo, possuir uma “personalidade” única, este é exatamente o caso do órgão Hammond. Não é sem motivo que, até os dias de hoje, ele inspira diversas empresas na criação de instrumentos digitais e softwares que simulam suas características singulares.
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Vídeo(s):
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Mais em:
- A fabricante de instrumentos musicais Roland Corporation de 1972
- O padrão MIDI de 1983
- O telefone de ar comprimido de 1844
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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