O software Microsoft BOB de 1995

Em 10 de março de 1995, a estadunidense do software Microsoft lançava o Microsoft BOB, a interface de usuário que prometia revolucionar os computadores, mas que se tornaria um dos maiores fracassos da empresa.
Numa destas ideias que parecem geniais, mas que acabam por não ter sucesso, o Microsoft BOB foi uma tentativa da Microsoft de reinventar a maneira como os usuários interagiam com seus computadores, aproveitando o momento em que eles começavam a ocupar mais massivamente os lares e a internet comercial dava os primeiros passos.

Lançado pouco antes do Windows 95, o Microsoft BOB foi uma interface de usuário alternativa para o os sistemas Microsoft Windows 3.1, Microsoft Windows 95 e Microsoft Windows NT, projetado para substituir a tradicional área de trabalho (o famoso “Gerenciador de programas”) por um ambiente com um visual mais elaborado e interativo.
Apresentando uma metáfora de uma “casa”, onde cada cômodo representava uma função diferente (ou um aplicativo), como escrever cartas (clicando sobre a figura de uma caneta), gerenciar finanças (clicando sobre um talão de cheques) ou navegar na internet, utilizava personagens animados, chamados de “assistentes”, para guiar os usuários. A ideia era que esses personagens tornassem a experiência do usuário mais amigável e menos intimidante.
Teve como um dos seus personagens mais famosos o cãozinho virtual Rover, estado ainda disponíveis vários outros, como o gato “Chaos”, um gárgula gótico “Baudelaire”, a mosca “Blythe”, William Shakespeare, uma criatura com nariz de trombeta “Chez”, o rosto vermelho “Dot”, o coelho azul “Hopper”, o livro falante de óculos “Lexi”, o elefante azul “Hank”, dentre muitas opções.

O software foi concebido por Karen Fries, a partir de sua experiência anterior com o Microsoft Publisher, no qual a elogiada introdução de “assistentes” facilitou aos usuários menos experientes alcançar os resultados desejados, sendo direcionados por eles através de um conjunto de soluções padronizadas. Foi um sucesso imediato.
Desta experiência bem-sucedida, surgiria uma ideia ainda mais “ousada”, de se criar uma interface para o sistema operacional que pudesse atrair usuários iniciantes, especialmente aqueles que achavam computadores (e interfaces gráficas) ainda complicados e difíceis de usar.
Nascia daí o Microsoft BOB, que havia sido anunciado publicamente em 7 de janeiro de 1995 por Bill Gates durante Consumer Electronics Show, e que teve como responsável pelo seu marketing ninguém menos que Melinda French (futura “Sra. Gates”), na época gerente de produto na Microsoft e namorada de Gates.

Mas a ideia aparentemente boa, não teve uma boa recepção por parte dos usuários e também da imprensa especializada, recebendo inúmeras críticas. A principal delas era que ele exigia hardware muito robusto para a época, um computador com processador Intel 80486 e 8MB de memória RAM, o que não representava a realidade da grande maioria dos usuários, limitando seu uso em máquinas mais antigas.
Outra questão foi a que muitos usuários acharam a interface excessivamente simplista e tendo “saído do jardim de infância”, como se o público-alvo fosse o de crianças e pré-adolescentes. Isto afastaria o interesse dos adultos, fossem eles usuários avançados ou iniciantes.
Além disso, muitos o acusaram de acabar mais dificultando que ajudando na realização de algumas tarefas simples, com os assistentes se tornando mais um obstáculo do que uma ajuda propriamente dita.
Seu preço também afastaria muitos interessados, cujo valor de US$99 (mais de US$ 160 em valores atuais) era considerado caro para um software que não oferecia funcionalidades tão “revolucionárias”.

Com vendas extremamente baixas, esperadas na casa dos milhões de cópias mas totalizando apenas 58.000, e reconhecendo o insucesso do Microsoft BOB, a empresa descontinuaria o programa já no ano seguinte, em 1 julho de 1999.
Sobre o fracasso do software, Steve Ballmer, um dos dirigentes da Microsoft na época, teria dito que o BOB foi um exemplo em que “decidimos que não tivemos sucesso e vamos parar“.
Surgia assim um dos “flops” tecnológicos mais monumentais da história, que entraria para os anais da tecnologia como um dos piores softwares de computador de todos os tempos, tornando-se sinônimo de algo mal concebido ou inútil.
Mais um daqueles históricos exemplos de como uma ideia bem-intencionada pode falhar devido à execução inadequada e à falta de compreensão das necessidades reais dos usuários.
Seu fracasso, contudo, não significaria que ele não deixaria marcas permanentes… 😊

Um dos mais famosos personagens do Microsoft BOB, o cãozinho virtual Rover, tempos depois se tornaria o “companheiro de pesquisa” para a função de pesquisa de arquivos do Windows XP. O uso de personagens animados no BOB também inspiraria a criação do “Clippy”, aquele clipe de papel animado que ajudava aos usuários do software Microsoft Office.
Outro dos seus legados foi a fonte Comic Sans, criada pelo designer Vincent Connare, que na época do desenvolvimento do Microsoft BOB entendeu que a fonte Times New Roman, adotada pelo sistema, era muito “sisuda” para os objetivos da ferramenta, povoada por bichanos animados. Muito embora a fonte não tenha sido adotada no BOB, foi incluída nas versões posteriores do Windows.
Para conhecer ou relembrar:
Quer experimentar o Microsoft BOB? As imagens dos discos de instalação estão disponíveis para download aqui neste endereço.
Conheça aqui a revista criada para orientar os usuários na utilização do Microsoft BOB.
Um site também foi criado para homenagear a história e o legado do Microsoft BOB. 😊
E você, utilizou o Microsoft BOB em seu computador? Como foi a experiência?
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Vídeo(s):
*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.
Mais em:
- O sistema Microsoft Windows 3.1 de 1992
- O sistema operacional Microsoft Windows 95 de 1995
- O sistema operacional Microsoft Windows NT 3.5 de 1994
- O microprocessador Intel 80486 de 1989
- O Microsoft Office de 1988
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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