O software IBM TopView de 1985

Em 8 de março de 1985, a gigante dos computadores IBM lançava sua própria solução para implementação de multitarefa sobre sistemas MS-DOS em computadores IBM PC, o software IBM TopView.
Sua história se iniciaria em 1980, quando o programador David C. Morrill começaria a desenvolver, anos antes da criação do IBM PC, um sistema de gerenciamento de janelas denominado GLASS, utilizando para tanto um computador mainframe modelo IBM/370.
Após uma versão extraoficial criada por ele em seu computador doméstico Apple II, visto que o Mainframe até então utilizado lhe impunha várias limitações técnicas, a versão para o IBM PC começaria a nascer após uma visita de Morrill, em julho de 1981, ao centro de pesquisa da IBM responsável por desenvolver o PC, familiarizando-se com o hardware do novo equipamento, que seria lançado pela empresa no mês seguinte.
Mas seriam necessários mais dois anos de trabalho até que Morrill conseguisse vencer a indiferença da empresa e fazer com que a IBM finalmente despertasse interesse pelo sistema que havia desenvolvido, o que só ocorreria após o lançamento do microprocessador Intel 80286 (com recursos nativos para multitarefa), e do início do projeto que desencadearia a criação do novo modelo de microcomputador IBM PC/AT.

Foi então que a IBM finalmente percebeu a necessidade de um sistema que melhorasse a experiência do usuário e oferecesse uma “camada” de funcionalidades multitarefa para o monolítico, mas onipresente, sistema Microsoft MS-DOS/IBM PC-DOS.
Isso porque a Microsoft, desenvolvedora do sistema operacional MS-DOS/PC-DOS, havia acabado de lançar a primeira versão do seu próprio sistema de janelas, o Microsoft Windows 1.0, e não tinha nenhuma intenção, naquela altura, de dotar seu DOS de funcionalidades de multitarefa.
Este fato incomodaria especialmente aos clientes IBM, que esperavam que o poderoso IBM PC/AT pudesse usufruir dos seus inovadores recursos técnicos, decorrentes especialmente do novo processador da Intel, coisa que o MS-DOS/PC-DOS não era capaz de fazer.
Nascia assim o software IBM TopView, desenvolvido para melhorar a usabilidade e facilitar a interação com os computadores pessoais, em especial com o tecnicamente avançado IBM PC/AT, sendo um dos primeiros esforços da IBM para oferecer uma interface de usuário multitarefa para usuários de suas linhas de computadores IBM PC, IBM PC/XT, IBM PC/AT e compatíveis.

Podendo ser executado em computadores com processadores Intel 8088, Intel 8086 ou Intel 80286, ele permitia que os usuários executassem vários programas simultaneamente, alternando entre eles por meio de uma interface de texto (não gráfica) que organizava as aplicações em “janelas”. Além disso, o IBM TopView podia ser operado por meio de menus e atalhos de teclado, o que representava uma evolução em relação à “dureza” das linhas de comando do MS-DOS.
Dentre estas ações disponíveis nos menus e atalhos, estava a funcionalidade de “copiar e colar”, que permitia transferir dados entre programas distintos, recurso muito útil especialmente em ambientes corporativos, quando relatórios e documentos com múltiplas fontes de informação precisavam ser confeccionados. Através dos mesmos menus, o usuário podia também alternar rapidamente entre diferentes programas, abrindo novas janelas conforme sua necessidade.
Outra de suas espantosas funcionalidades era que, diferentemente dos programas conhecidos como Terminate and Stay Resident – TSR (Temina e Permanece Residente), que quando em modo “dormente” suspendiam sua execução para dar vez a outro, o IBM TopView, dada sua natureza verdadeiramente multitarefa, permitia que programas permanecessem sendo executados em segundo plano, mesmo enquanto o usuário utilizava outros aplicativos. Uma novidade e tanto para a época.
Sua compatibilidade com programas MS-DOS era, contudo, restrita. Ele era capaz de rodar quaisquer aplicativos projetados para MS-DOS em uma de suas janelas (desde que “bem-comportados”) sem necessidade de modificações, ao menos em tese.
Isso significava dizer que, programas que acessassem diretamente a memória de vídeo (como o Lotus 1-2-3) ou portas de hardware, contornando o BIOS do sistema, teriam problemas para operar “enjanelados” sob o IBM TopView, obrigando sua operação em tela cheia.
Apesar de todo seu apelo inovador, o IBM TopView teve uma recepção um tanto “morna” no mercado. Isto porque, embora trouxesse avanços inegáveis, muitos usuários simplesmente não precisavam (ou não sabiam que precisavam) de um sistema multitarefa. Simples assim.

Além disso, como ainda dependia do MS-DOS, que não havia sido originalmente projetado para multitarefa, o desempenho IBM TopView podia ser impactado por máquinas com menor capacidade de memória. Isso exigiria que os computadores precisarem dispor de ao menos 512KB de memória RAM e um caro disco rígido instalados, caso quisessem, por exemplo, executar dois programas simultaneamente. Vale lembrar que falamos de uma época em que os computadores IBM saíam da fábrica com 128 ou 256KB de memória RAM e os discos rígidos eram um luxo para poucos. 😊
Desta forma, ele teve dificuldades de competir com ferramentas mais baratas como o Borland SideKick, que embora não tivesse capacidade multitarefa (era um TSR), podia ser “chamado” por meio de uma combinação de teclas de atalho que acionava um menu de opções com ferramentas básicas de agenda, bloco de notas, calculadora, entre outras. Para a grande maioria, isto era mais do que suficiente.
Soma-se ainda a ascensão de sistemas operacionais com interface gráfica de usuário (GUI), como o Microsoft Windows, o Digital Research GEM e o Quarterdeck DESQview. Embora este softwares tenham tomado emprestado muitas das funcionalidades do programa da IBM, sua existência tornava difícil a tarefa convencer aos desenvolvedores de criarem programas para o IBM TopView, usando os limitados modos texto.

Há quem diga que o IBM TopView teria sido lançado apenas com a missão de “cutucar” a Microsoft, com o objetivo de que ela se motivasse a criar um novo sistema operacional mais avançado e com recursos nativos de multitarefa. Fato é que dois anos depois, em 1987, IBM e Microsoft, em um trabalho conjunto, produziriam o revolucionário sistema operacional Operating System/2, ou simplesmente OS/2.
O IBM TopView foi também o responsável por introduzir os Arquivos de Informação de Programa (PIF), que definiam como um programa DOS deveria ser executado em um ambiente multitarefa, otimizando o uso de recursos do sistema. E pra você que se lembrou deste nome “de algum lugar”, respondemos: SIM! O arquivo PIF era exatamente o mesmo que as primeiras versões do Microsoft Windows utilizavam para rodar programas DOS. 😊
As vendas modestas e o advento do OS/2, acabariam por provocar a descontinuação do IBM TopView, tendo sua última versão sido lançada em 2 de abril de 1987, com a IBM passando a concentrar seus esforços em seu novo sistema. Em 3 de julho de 1990, o software sairia definitivamente do catálogo da empresa.
Versões posteriores
A versão IBM TopView 1.10, introduzida em junho de 1986, trouxe o suporte a redes IBM PC, permitindo que os usuários conectassem seus sistemas em rede, facilitando a comunicação e o compartilhamento de recursos. Além disso, a emulação de terminal IBM 3270 possibilitou a interação com sistemas mainframe, ampliando as capacidades do TopView em ambientes corporativos.
Introduziu ainda o recurso de “swapping” para programas não residentes, permitindo que esses programas fossem armazenados temporariamente no disco rígido ou na memória alta em máquinas equipadas com processadores Intel 80286. Essa funcionalidade otimizou o uso da memória disponível, melhorando o desempenho geral do sistema.
Outra novidade foi o melhor suporte a arquivos em lote do MS-DOS (bat), que foi aprimorado, proporcionando uma execução mais eficiente e integrada desses scripts dentro do ambiente IBM TopView.
A versão IBM TopView 1.12, introduzida em 2 de abril de 1987, adicionou suporte aos novos computadores da linha IBM PS/2, garantindo que os usuários pudessem aproveitar as funcionalidades do software nos sistemas mais recentes da IBM. Isso incluía os novos mouses PS/2, que também passaram a ser suportados pelo sistema.
A nova versão também assegurou compatibilidade com a versão 3.3 do sistema operacional MS-DOS, garantindo aos usuários a atualização dos seus sistemas.
Permitiu ainda o uso de até quatro portas seriais simultaneamente, facilitando a conexão de múltiplos periféricos e ampliando as possibilidades de comunicação do sistema.
A interface de usuário “gráfica” teria sido prometida para a versão IBM TopView 2.0, que nunca chegou a ser lançada.
Para conhecer ou relembrar:
Gostaria de experimentar o IBM TopView? Aqui neste endereço você poderá realizar o download de algumas de suas versões.
Mas se preferir, neste outro local existe uma versão que roda diretamente no seu navegador.
E você, usou alguma das versões do IBM TopView? Ou preferia um dos concorrentes?
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Vídeo(s):
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- O microcomputador IBM PC/XT 5160 de 1983
- O microcomputador IBM PC/AT 5170 de 1984
- O sistema operacional Microsoft MS-DOS de 1981
- O sistema operacional IBM PC-DOS de 1981
- O sistema operacional Microsoft Windows 1.0 de 1983
- O microprocessador Intel 8088 de 1979
- O microprocessador Intel 8086 de 1978
- O microprocessador Intel 80286 de 1982
- O sistema operacional Digital Research GEM Desktop 1.0 de 1985
- O sistema IBM OS/2 de 1987
- O microcomputador IBM PS/2 modelo 25 de 1987
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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