A Phrack Magazine de 1985

Em 17 de novembro de 1985, a primeira edição da revista eletrônica Phrack, voltada ao público do universo hacker e da segurança da informação, era publicada.
Distribuída por meio dos BBSs (Bulletin Board Systems), antigos sistemas eletrônicos de informações acessados através de linhas telefônicas e modems, e replicada em diversos sistemas ao redor do mundo, a revista eletrônica (e-zine) conhecida como Phrack Magazine foi uma das publicações mais singulares do mundo “underground” da cultura hacker e da história da tecnologia.
O nome com que seria batizada, “Phrack”, advindo da junção das expressões “phreaking” (usada para descrever hacking de sistemas de telefonia) e “hack” (no sentido mais amplo de exploração de sistemas computacionais), já sinalizava o tipo de conteúdo técnico e cultural que a e-zine iria disseminar. 🙂

Seus editores fundadores, conhecidos pelos pseudônimos de Taran King (Randy Tischler) e Knight Lightning (Craig M. Neidorf), seriam os responsáveis pela edição da maioria das primeiras trinta edições, estabelecendo o tom da revista. O objetivo da Phrack era ser um veículo de informação técnica e cultural para a comunidade hacker, abordando temas como segurança de computadores, técnicas de phreaking, programação e questões éticas e filosóficas relacionadas à tecnologia.
A relevância da Phrack cresceria rapidamente após seu lançamento, tornando-se uma leitura fundamental para hackers e profissionais de segurança de computadores em todo o mundo. A e-zine não seria apenas um repositório de descobertas técnicas, mas também um registro da cultura hacker da época, compartilhando histórias, triunfos e lições aprendidas pela comunidade.
Um dos textos mais notáveis e influentes que a Phrack chegaria a publicar foi “O Manifesto Hacker” (“The Conscience of a Hacker”), escrito por Loyd Blankenship (pseudônimo “The Mentor”) em 8 de janeiro de 1986 (após sua prisão), no qual buscaria explicar a motivação e a filosofia dos hackers para um mundo que os via com suspeita, tornando-se um documento cultural de imensa importância e peça-chave da cultura hacker moderna.

Durante seus primeiros dez anos, a Phrack estaria associada especialmente a “fraudes em telecomunicações” (telecom fraud) e à exploração de sistemas de telefonia (phreaking). Mas com o avanço das redes e da Internet, seu foco gradualmente mudaria, passando, em meados dos anos 1990, a temas que se aproximavam cada vez mais da segurança de computadores, da exploração de vulnerabilidades (“exploits”) e da noção do hacking como atividade técnica e cultural dentro da informática.
Apesar de seu sucesso, a Phrack enfrentaria vários desafios editoriais, legais e institucionais. A edição #24 (fevereiro de 1989), por exemplo, que publicou documentação relacionada ao funcionamento do sistema de emergência 9-1-1 nos EUA, levou a revista a sofrer investigações do governo e a prisão do editor Knight Lightning e de Robert J. Riggs (pseudônimo “Prophet”).
Com a ajuda da Electronic Frontier Foundation, Riggs seria inocentado, após ficar provado que a empresa Bellsouth vendia publicamente a mesma documentação a quem solicitasse, por meros US$ 13. Ainda assim, pressões do governo levariam à interrupção na produção da revista, após a edição #30 em dezembro de 1989.

A Phrack continuaria a ser publicada de forma aperiódica ao longo das décadas, adaptando-se às mudanças tecnológicas e saindo do formato de BBS para o da World Wide Web em setembro de 1994. Ao longo de sua existência, a revista passaria por diversas equipes editoriais e períodos de maior ou menor frequência de publicação, mas sempre fiel à sua missão de fornecer artigos técnicos detalhados sobre exploração de vulnerabilidades, programação e segurança, mantendo o espírito de exploração e compartilhamento de conhecimento.
Importante lembrarmos que falamos de um período dos anos 80 e início dos 90 no qual o acesso à informação era mais difícil, não existindo a web, YouTube e nem redes sociais. A formato da Phrack, gratuito, digital, distribuído inicialmente em arquivos de texto e depois na internet, anteciparia modelos de publicação online que se tornariam comuns décadas depois, fazendo deste periódico um dos precursores desse tipo de circulação de conhecimento.
Para conhecer ou relembrar:
A coleção completa com todas as edições está disponível aqui neste endereço.
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Vídeo(s):
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Mais em:
- O Computerized Bulletin Board System CBBS de 1978
- O termo hacker de computador de 1963
- A prisão do hacker Kevin Mitnick em 1995
- O termo Spyware de 1995
- O software SATAN de 1995
- A expressão “vírus de computador” de 1983
- O primeiro vírus de computador ELK CLONER de 1982
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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