A prisão do hacker Kevin Mitnick em 1995

Em 15 de fevereiro de 1995, a polícia federal norte-americana, após uma cassada de anos, prendia finalmente Kevin Mitnick, um dos hackers mais famosos e procurados do mundo.
Nascido em 6 de agosto de 1963, nos Estados Unidos, Kevin David Mitnick entraria para a história como uma das figuras mais conhecidas da área de cibersegurança, tornando-se um dos hackers mais notórios e controversos de sua geração, sendo considerado tanto um gênio da invasão digital quanto um símbolo dos perigos da era da informação.
Demonstrando desde cedo um talento excepcional para a tecnologia, começaria a hackear sistemas ainda na adolescência. Para tanto, desenvolveria especial habilidade em engenharia social, conhecimento que lhe permitiria obter informações sigilosas sem precisar recorrer a técnicas sofisticadas de programação.
Seus primeiros passos no mundo do hacking envolveriam brincadeiras aparentemente inofensivas, como burlar o sistema de ônibus da sua cidade para viajar de graça. No entanto, sua curiosidade e obstinação o levariam a explorar territórios cada vez mais complexos, culminando em invasões a sistemas de grandes empresas e até mesmo agências governamentais.

Seu primeiro grande ato de hacking teria ocorrido em 1979, quando invadiu o sistema de computadores da Universidade da Califórnia do Sul (USC), alterando notas escolares.
Adquiriria fama ao longo dos 1980, quando invadiria diversos sistemas de grandes empresas e redes governamentais, explorando vulnerabilidades e utilizando truques psicológicos para obter credenciais de acesso de funcionários.
Em 1988, seria preso pela primeira vez, sob a acusação de invadir sistemas da Digital Equipment Corporation (DEC) e de furto de software. Condenado a um ano de prisão, violaria sua liberdade condicional ao continuar a invadir sistemas, muito embora sua sentença o proibisse de utilizar computadores.
Perto do fim dos três anos de liberdade condicional, Kevin Mitnick invadiria os sistemas da Pacific Bell (AT&T) e de outras empresas de telecomunicações, despertando a atenção das autoridades, que determinariam que retornasse à prisão.
Sabendo que seria preso, “vazou”, entrando para a lista de fugitivos do FBI e tornando-se um dos hackers mais procurados do mundo.

No início da década de 1990, ainda fugitivo, invadiria redes de gigantes da tecnologia, como Nokia, Motorola e Sun Microsystems, além de acessar dados sigilosos de órgãos federais e vários sistemas de segurança.
Passaria a usar identidades falsas e a se esconder em diferentes estados dos EUA. Durante esse período, continuaria suas atividades, dificultando sua localização através do uso de celulares clonados.
Neste período, sua fama cresceria exponencialmente. Seus feitos fariam dele uma figura quase “mítica”, sendo retratado pela imprensa como um “gênio da tecnologia”, capaz de penetrar em qualquer sistema com facilidade.
Prisão
A caçada policial (com direito a enorme pirotecnia midiática) terminaria finalmente em 15 de fevereiro de 1995, quando Kevin Mitnick foi preso pelo FBI em seu apartamento em Raleigh, na Carolina do Norte. Sua captura foi possível graças à colaboração do especialista em segurança Tsutomu Shimomura, que teve seus próprios sistemas hackeados por Mitnick, e que ajudou as autoridades a rastrear sua localização.
No momento da prisão, Mitnick tinha em sua posse diversos celulares clonados e centenas de números de cartões de crédito roubados, além de um conjunto de ferramentas avançadas para invasão de sistemas.

Acusado de múltiplas infrações relacionadas a computadores e telecomunicações, incluindo fraude eletrônica, posse de dispositivos de acesso não autorizados e acesso não autorizado a computadores federais, teve sua prisão amplamente noticiada na imprensa, gerando debates sobre a segurança cibernética e as consequências legais para hackers.
Após um novo processo iniciado em 1998, Mitnick se declararia culpado de diversos crimes de invasão digital e fraude em 1999, sendo condenado a 46 meses de prisão, acrescidos de mais 22 meses por violar o acordo de liberdade condicional anterior.
Durante seus 5 anos de prisão, quatro deles já cumpridos sem ter sido julgado, passou por um processo de transformação, decidindo usar suas habilidades para o bem, passando de criminoso a consultor de segurança cibernética.

Seu encarceramento produziria ainda outro tipo de discussão: quais seriam os limites da punição para crimes cibernéticos?
Isso porque, embora tenha sido acusado de causar milhões de dólares em prejuízos, muitos especialistas argumentavam que suas ações não tinham motivações financeiras, mas sim o desejo de desafiar os sistemas de segurança, sem nunca ter ameaçado ou extorquido ninguém. Ele também levaria a culpa por diversos outros crimes, dos quais alegou nunca ter principado.
Nos últimos 8 meses de sua pena, foi submetido a confinamento solitário, após a acusação convencer o juiz do caso com a fantasiosa argumentação de que Mitnick “seria capaz de disparar mísseis nucleares assoviando em um telefone público”. Também foi impedido de conversar com seu advogado, dificultando a construção de sua defesa.
Judeu, teve ainda o fornecimento de refeições kosher negadas pela administração do presídio, o que o impediu de se alimentar por muitas vezes. “Ou violo minhas crenças religiosas ou morro de fome”, disse ele na oportunidade.

Após sua libertação em 21 de janeiro de 2000, embora proibido de utilizar qualquer dispositivo conectado à internet por um período adicional de três anos, fundaria a Mitnick Security Consulting, uma empresa de consultoria de segurança que ajudava empresas a identificar vulnerabilidades e proteger suas redes contra-ataques cibernéticos.
Além de um consultor altamente requisitado, Mitnick se tornaria um palestrante renomado e escritor, publicando livros como “A Arte de Enganar“, “A Arte da Invisibilidade” e “Ghost in the Wires: Minhas Aventuras como o Hacker Mais Procurado do Mundo”, nos quais compartilha sua história, seus conhecimentos sobre técnicas de engenharia social e ensina como indivíduos e empresas podem se proteger de ataques cibernéticos. Sua experiência como hacker serviria de base para educar o público sobre os riscos da segurança digital e a importância da proteção de dados.

Kevin Mitnick viria a falecer em 16 de julho de 2023, aos 59 anos, vítima de um câncer pancreático, deixando sua esposa, ainda grávida do seu primeiro filho. Sua história, repleta de polêmicas e reviravoltas, continua sendo um dos casos mais emblemáticos do mundo da tecnologia.
Figura complexa e controversa, foi, para alguns, um gênio da tecnologia perseguido injustamente. Para outros, um criminoso que causou danos significativos a empresas e indivíduos. Independentemente da perspectiva, é inegável o legado duradouro deixado por ele no mundo da cibersegurança, tornando-se uma forte referência tanto para hackers quanto para profissionais da área.

Para conhecer ou relembrar:
Íntegra do livro A Arte de Enganar:
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Vídeo(s):
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Mais em:
- O termo hacker de computador de 1963
- A fundação da ATT (AT&T) em 1885
- A fundação da Sun Microsystems em 1982
- Perfil de Kevin Mitnick no Facebook
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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