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Em 9 de dezembro de 1984, Fujio Masuoka, pesquisador da empresa Toshiba, apresentava ao mundo a revolucionária memória Flash.

Nos anos 80, os tipos de memórias regraváveis nos sistemas computacionais consistiam basicamente nas memórias voláteis tipo RAM dinâmicas (DRAM) e nas memórias não-voláteis tipo EPROM e EEPROM, cada um com suas aplicações, características e limitações, em termos de velocidade, capacidade de armazenamento e possibilidade de manutenção dos dados na ausência de energia.

A questão é que o processo de reescrita dos conteúdos dos modelos não-voláteis por vezes envolvia procedimentos demorados, o que acabava eventualmente por produzir transtornos em sua utilização.

Neste cenário, Fujio Masuoka, então pesquisador da empresa de tecnologia japonesa Toshiba, percebeu a necessidade de uma memória não-volátil (como as EPROM e EEPROM), que fosse mais rápida e eficiente do que as tecnologias existentes na época, mas que também pudesse ser apagada e regravada múltiplas vezes, sem, por exemplo, envolver a necessidade de remover fisicamente o chip do dispositivo, como no caso das EPROMs.

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Memórias EPROM e EEPROM

Concebida por Masuoda, surge assim a memória Flash, cujo conteúdo podia ser apagado e reprogramado eletricamente, como já ocorria com as EEPROMs.

A grande sacada de sua invenção, contudo, consistia na criação de uma arquitetura de “apagamento em bloco” de dados, onde múltiplas células de memória poderiam ser apagadas simultaneamente, ao invés de uma por uma, como até então era o caso das EEPROMs, resultando em um aumento significativo na velocidade de operação.

O nome “Flash”, sugerido por seu colega Shoji Ariizumi, teria sido inspirado inclusive nesta rapidez com que os dados podiam ser apagados ou regravados, comparada a um “flash” de uma câmera fotográfica. A ironia é que as memórias Flash se tornariam populares exatamente com as máquinas fotográficas digitais. 😊

Apresentado publicamente no dia de hoje, durante o evento IEEE International Electron Devices Meeting ocorrido na Califórnia/EUA, o artigo intitulado A new flash E2PROM cell using triple polysilicon technology,” seria um divisor de águas para a indústria eletrônica, transformando a maneira como armazenamos e acessamos dados.

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O histórico do artigo de 1984

Durante a apresentação de seu artigo, Masuoka detalhou a arquitetura e os princípios operacionais da nova memória, demonstrando seu potencial para revolucionar o universo de armazenamento de dados, impressionando a comunidade científica da época com as possibilidades apresentadas pela invenção.

Descreveu ainda como a nova tecnologia permitia operações de apagamento e gravação muito mais rápidas, destacando seu potencial para aplicações em larga escala e tornando-a ideal para uma ampla variedade de aplicações, de dispositivos eletrônicos de consumo até equipamentos industriais e militares.

A invenção de Masuoka, obviamente, atrairia grande atenção da indústria de eletrônicos, encontrando na década seguinte, quando o custo de fabricação diminuiu e a demanda por dispositivos móveis cresceu, uma vasta gama de aplicações, tornando-se fundamental em dispositivos como câmeras digitais, tocadores de música, PDAs, smartphones, unidades de armazenamento USB (os “pendrives”) e cartões de memória, influenciando setores como a fotografia e a música digital.

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Uma infinidade de dispositivos utilizam memórias Flash

Além do mercado consumidor, a memória Flash se tornaria indispensável para a indústria, com servidores de dados, sistemas de automação e até satélites espaciais utilizando este tipo de armazenamento, em função da sua confiabilidade e resistência a condições adversas.

Ao longo dos anos, a tecnologia Flash continuaria a evoluir. Melhorias na densidade de armazenamento e na durabilidade das células de memória permitiram que a memória Flash se tornasse ainda mais eficiente e acessível. Isso levou ao desenvolvimento de unidades de disco estado sólido (SSDs) que superaram os discos rígidos tradicionais em termos de velocidade e confiabilidade.

Descrédito em casa

Mas apesar de sua importância, a tecnologia inicialmente não recebeu o devido reconhecimento pela Toshiba, curiosamente sendo subestimada pela própria empresa onde Fujio Masuoka a havia criado. A inépcia da Toshiba faria com que a Intel assumisse a dianteira do mercado, capitalizando sobre a invenção japonesa e deixando a Toshiba para trás na corrida.

Isso se demonstra claramente pelo fato da Intel, logo após a apresentação do artigo de Masuoka, ter designado uma equipe de mais de 300 engenheiros dedicados exclusivamente a pesquisar a nova tecnologia. A Toshiba, por sua vez, alocou 5 pessoas para trabalhar com Masuoka. Em uma jornada de meio período…

Reconhecida na época como a inovação de semicondutores mais importante da década de 1990, a memória Flash deveria ter tornado Masuoka um homem rico. No entanto, ele não receberia nenhum centavo de royalties pelo desenvolvimento da tecnologia, apesar de sua relevância global e de um mercado estimado da ordem de centenas de bilhões de dólares.

E esta não teria sido a primeira grande contribuição de Masuoka para a empresa. Logo que entrou na Toshiba, foi responsável por desenvolver a memória conhecida como SAMOS (Stacked-Gate Avalanche-Injection Metal–Oxide–Semiconductor), sendo também o criador do primeiro chip de memória RAM de 1Megabit da empresa.

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O “pai” da memória Flash

Tempos depois, a Toshiba “reconheceria” seus esforços, dando a ele um bônus equivalente a algumas centenas de dólares”. Para piorar, a Toshiba ainda teria tentado retirá-lo do seu cargo de pesquisador sênior, deslocando-o para uma posição em que ele não pudesse mais fazer pesquisas e que não teria nenhuma equipe. Como diríamos aqui no Brasil, tentaram “encostá-lo”.

Isso faria com que em 1994, talvez desgostoso, Masuoka deixasse a Toshiba, passando a atuar como professor na Tohoku University e como consultor no setor tecnológico.

Em 2004, num movimento incomum no Japão de processar um empregador, Masuoka entraria com uma ação judicial contra a Toshiba, requerendo uma compensação de US$ 9,2milhões pelo trabalho que havia feito para a empresa, que mal havia reconhecido suas contribuições.

Após dois anos, a Toshiba proporia um acordo pagando à Masuoka um valor equivalente a ¥ 87 milhões de ienes (aproximadamente US$ 750mil na época). Valor irrisório perto dos bilhões anuais que ela fatura com a tecnologia.

Revolução

A criação da memória Flash revolucionou a forma como dados são armazenados e acessados, tornando-a um elemento essencial em dispositivos que vão de smartphones a câmeras digitais.

Embora novas tecnologias venham sendo criadas, atualizações em sua arquitetura e técnicas de fabricação prolongaram a vida útil da tecnologia, permitindo que ela acompanhasse as crescentes demandas por velocidade e capacidade.

Hoje, a memória Flash é considerada uma das invenções mais significativas da segunda metade do século XX, comparável à introdução do transistor e do microprocessador. Sem ela, seria impossível imaginar o nível de conectividade e portabilidade que define a sociedade contemporânea.

A contribuição de Fujio Masuoka permanece um exemplo de como a inovação tecnológica pode transformar profundamente o mundo, com um legado que está presente em cada dispositivo eletrônico que usamos. O reconhecimento tardio de sua invenção destaca a importância de valorizar os cientistas e engenheiros que trabalham nos bastidores, impulsionando os avanços que moldam o futuro.

Apesar de tudo, Masuoka receberia ao redor do mundo inúmeros prêmios e honrarias por suas contribuições à tecnologia.


E você, lembra qual foi o primeiro dispositivo que usou que continha memórias tipo Flash?

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Vídeo(s):

*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.

A história da memória Flash (CHM)
Documentário sobre Fujio Masuoka
Mais em:



*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.


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