A Byte Magazine de 1975

Em setembro de 1975, a editora norte-americana Green Publishing lançava a Byte Magazine, uma das mais importantes e influentes publicações da história sobre tecnologia e computação pessoal em todo o mundo.
Criada pelo editor Wayne Green, sua esposa Virginia Londner Green (posteriormente Virginia Williamson) e Carl Helmers, a revista nasceria em um momento de efervescência tecnológica, logo após o anúncio do microprocessador MOS 6502 e no ano seguinte ao lançamento do MITS Altair 8800, considerado o primeiro microcomputador de sucesso comercial.

Nesta época Green, então editor da revista Amateur Radio (radioamador), vinha percebendo que os artigos publicados em sua revista relacionados à “novidade” dos computadores, estavam despertando grande interesse por parte dos seus leitores. No mesmo período, Helmers editaria a publicação mensal ECS (Experimenter’s Computer System), criada a partir de uma série de artigos publicados no ano anterior apresentando um projeto de construção de um computador pessoal.
Foi quando, após uma conversa em 25 de maio de 1975, decidiriam se juntar para fundarem uma nova revista, fazendo nascer, meses depois, a lendária Byte Magazine, cuja primeira edição seria lançada em setembro de 1975 nos Estados Unidos.
Uai, mas onde entra a Virginia na história? A questão é que, como Green vinha tendo “problemas” com o fisco estadunidense, foi “fortemente aconselhado” por seu advogado a colocar sua nova empresa Green Publishing, que administraria a Byte, no nome de sua esposa, o que faria com que Virginia Londner Green também viesse a entrar no negócio.

Mas para surpresa de Green, dois meses depois da estreia da revista, percebeu ao chegar ao trabalho que toda a equipe de produção da revista havia sumido. Eles haviam se mudado para outro local, onde Carl Helmers e Virginia Williamson passariam a tocar a revista, agora sobre o controle da empresa Byte Publications, fundada por eles.
Green até que tentaria revidar a “pernada”, criando uma nova revista, mas não seria capaz de suplantar o sucesso da Byte.
Evolução
A Byte Magazine se destacaria por oferecer não apenas notícias, mas análises profundas, artigos técnicos, tutoriais e até códigos-fonte, tornando-se referência obrigatória tanto para entusiastas quanto para profissionais da área.
Seu famoso subtítulo, “the small systems journal” (o jornal dos pequenos sistemas), definia perfeitamente seu escopo. A capa da primeira edição já anunciava seu caráter prático, com a manchete “Which Microprocessor for You? (Qual Microprocessador pra Você?).
Desde suas primeiras edições, a Byte Magazine teve como proposta ser uma publicação técnica, mas acessível a um público amplo, contemplando desde hobistas e entusiastas, que montavam computadores em casa, até engenheiros e pesquisadores envolvidos com a evolução da informática.

Seus textos eram muitas vezes escritos pelos próprios caras que estavam criando a história da computação, o que tornaria Byte Magazine um registro vivo da transformação da tecnologia, deixando de ser algo restrito a “laboratórios” para virar um fenômeno cultural e doméstico. Ela não apenas ensinava conceitos de eletrônica digital e programação, mas também funcionava como um fórum onde os leitores podiam compartilhar projetos, ideias e soluções.
Em seus primeiros anos de existência a revista acompanharia de perto o surgimento de “ícones” como o Apple II, Commodore PET, TRS-80, IBM PC e Macintosh, além de sistemas operacionais como CP/M, MS-DOS e, posteriormente, as primeiras versões do Microsoft Windows.
Não era raro encontrar nas páginas da Byte Magazine análises completas de hardware, diagramas técnicos e comparativos detalhados entre diferentes modelos, o que a tornava, para muitos, um “manual não oficial” de referência, ajudando a compreender o funcionamento interno de cada computador e a explorar suas capacidades.
Kansas City Standard (KCS)
O que talvez muita gente não saiba é que a Byte Magazine foi uma das principais responsáveis pela criação de um padrão universal para armazenamento de dados em fitas cassete (k7) comuns de áudio, formato que seria um dos mais populares entre os usuários domésticos até meados dos anos 80.
Isso ocorreria pelas mãos de Wayne Green que, logo após criar a revista, promoveria um encontro entre os dias 7 e 8 de novembro de 1975, em Kansas City, onde fabricantes se reuniriam na tentativa conceber o melhor formato para o sistema.

Deste encontro sairia aquele que ficaria conhecido como Kansas City Standard (KCS), ou Byte Standard (como também seria chamado), cuja especificação técnica final (publicada na edição de fevereiro de 1976), foi baseada na concepção original de Donald E. Lancaster publicada na primeira edição (p.22), da Byte Magazine.
Vale observar, contudo, que entre os nomes dos participantes deste encontro estava ninguém menos que Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft, representando nesta oportunidade a empresa MITS, criadora com computador Altair 8800.
A venda para McGraw-Hill
Agora com mais de 150mil assinantes, a revista seria vendida para a gigante das publicações técnico-científicas McGraw-Hill em abril 1979. Virginia permaneceria como editora da revista até 1983, quando assumiria a vice-presidência da McGraw-Hill Publications Company.
A partir da venda, a Byte Magazine mudaria gradualmente seu foco, deixando de fornecer conteúdos do tipo “faça você mesmo”, para focar em reviews de lançamentos de hardware e software relacionados ao universo dos computadores pessoais.
Agora com status de “popstar”, com um número de assinantes superior a 400mil, produzia edições com mais de 500 páginas, com mais da metade delas ocupadas por anunciantes que pagavam US$ 6.000 por página. Isso faria com que seu faturamento se mantivesse em crescimento, na contramão da retração experimentada pelo restante do mercado editorial na primeira metade dos anos 80.

Durante os anos 1980, quando a computação pessoal se consolidava como mercado global, a Byte Magazine expandiria sua influência, com reportagens agora cobrindo não apenas o mercado norte-americano, mas também as iniciativas internacionais, incluindo computadores europeus e japoneses.
A revista passaria a ser distribuída em diversos países, ganhando status de publicação de prestígio, sendo citada em universidades, empresas de tecnologia e até na imprensa generalista, que buscava nela uma fonte confiável de informação sobre o setor.
A chegada da Internet Comercial
A década de 1990 traria, contudo, mudanças significativas. A popularização dos computadores domésticos e o surgimento de sites e fóruns online (ganhando espaço como meio de comunicação e de acesso à informação) diminuiriam o impacto da revista, que já não era mais a principal fonte de informação para os novos usuários.
Percebendo que o perfil de seu público vinha se transformando, a Byte Magazine tentaria se adaptar, sem abrir mão de sua tradição de análises detalhadas (que fizeram dela uma publicação respeitada), buscando manter sua relevância no acompanhamento das evoluções do hardware, do software e das redes de computadores.

Em 1993, a revista inauguraria sua presença online com a criação do domínio “byte . com” e oferecendo alguns conteúdos online, antecipando-se a muitas outras publicações concorrentes. Porém, mesmo com essa iniciativa, não conseguiria resistir às mudanças do mercado editorial e à velocidade da internet, com a edição impressa tendo sido oficialmente encerrada em julho de 1998 (logo após sua venda para a CMP Media), depois de 23 anos de circulação ininterrupta.
Ainda assim, a força da marca Byte faria com que a CMP Media ressuscitasse a revista em 1999 numa versão exclusivamente online, sem o mesmo impacto histórico da publicação original, que continuaria a existir até 2009, quando seria novamente encerrada.
A história da Byte Magazine se confunde com a da computação pessoal, retratando uma época em que o computador deixaria de ser uma “curiosidade” para se tornar o centro da vida moderna. Seus artigos documentariam o nascimento da microinformática, a ascensão das grandes empresas de software e hardware, bem como o cotidiano de uma geração que via, pela primeira vez, computadores saírem dos laboratórios e entrarem em escritórios, escolas e casas.
Para conhecer ou relembrar:
Quer folhear as edições da Byte Magazine? Neste site e neste outro você consegue acessa-las na íntegra, em dois formatos diferentes.
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Vídeo(s):
*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.
Mais em:
- O microprocessador MOS 6502 de 1975
- O computador Altair 8800 de 1974
- O microcomputador Apple II de 1977
- O microcomputador Commodore PET de 1977
- O microcomputador TRS-80 modelo I de 1977
- O IBM PC 5150 de 1981
- O microcomputador Apple Macintosh de 1984
- O sistema operacional Digital Research CP/M de 1974
- O sistema operacional Microsoft MS-DOS de 1981
- O sistema operacional Microsoft Windows 1.0 de 1983
- A fita cassete K7 de 1963
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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