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Em maio de 1974, o programador Gary Kildall, fundador da empresa Digital Research, criava o Control Program/Monitor, o revolucionário sistema operacional Digital Research CP/M para computadores pessoais.

Desenvolvido por Gary Arlen Kildall utilizando a linguagem de programação PL/M (Programming Language for Microcomputers), também criada por ele, o CP/M (Control Program/Monitor, posteriormente rebatizado como Control Program for Microcomputers) foi um sistema operacional pioneiro, com um impacto significativo no mundo da computação, tornando-se um dos mais influentes de sua época e estabelecendo um marco importante na história dos sistemas operacionais.

Esta história se iniciaria em 1972 quando Kildall, então professor de ciência da computação na Escola Naval de Pós-Graduação dos Estados Unidos em Monterey, viu em um quadro de avisos da faculdade um anúncio do primeiro microprocessador da Intel, o Intel 4004.

Curioso, Kildall decidiu adquirir um exemplar e começou a escrever programas para ele.

Pouco tempo depois, visitaria a Intel, onde começaria a trabalhar como consultor, para sua ainda pequena divisão de microprocessadores.

Trabalhando um dia por semana na Intel, em seu tempo livre como professor na faculdade, Gary escreveria a primeira linguagem de alto nível para o microprocessador de 8 bits Intel 8008, batizada por ele como PL/M (Programming Language for Microcomputers), uma espécie de “brincadeira” com a linguagem de programação PL/I para Mainframes da IBM.

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O Intellec-8, usado em seu desenvolvimento

Como parte do pagamento por seu trabalho, a Intel daria a ele um de seus sistemas de desenvolvimento Intellec-8, um tipo de microcomputador industrial destinado a ser utilizado como plataforma de desenvolvimento para seus microprocessadores. Os computadores Intel Intellec, inclusive, são anteriores ao Altair 8800, considerados os primeiros computadores pessoais da história.

A brincadeira começaria a ficar realmente divertida com o lançamento do microprocessador Intel 8080.

Após atualizar seu sistema Intellec para a nova CPU, que incluía agora um monitor e um leitor de fita de papel perfurado, Kildall ganharia ainda uma unidade de disquetes de 8” de fabricação da Shugart Associates.

Tudo bem… era uma unidade de testes meio “zoada”, que havia funcionado por mais de 10mil horas para testes de falha, que não tinha caixa, fonte, cabos, e principalmente, seu computador Intel Intellec não dispunha naquele momento de uma interface de discos nativa capaz de “conversar” com ela. ☹

Entra em ação seu amigo John Torode, que fabricaria, a seu pedido, a necessária placa de interface para sua nova unidade de discos, transformando agora seu Intel Intellec em um computador completo. 😊

Legal! Agora ele tinha um computador de verdade!

Mas faltava um item essencial pra fazer todas estas partes conversarem entre si: um sistema operacional (SO).

Empolgado, Kildall retoma seu trabalho de programação, concluindo em 1974 aquele que s tornaria o CP/M, o primeiro sistema operacional de disco (DOS) para microcomputadores e que suportava os processadores Intel 8080/8085 e, posteriormente, o Zilog Z-80.

Numa época em que computadores eram itens destinados à grandes corporações ou órgãos governamentais, a simples ideia de um sistema operacional para microcomputadores era revolucionária.

Com seu DOS pronto, Kildall oferece-o inicialmente à Intel por US$ 20 mil, que se interessa por sua linguagem PL/M, adquirindo-a, mas declina da oferta do seu sistema, alegando que não estava interessada em um sistema operacional de disco. Afinal, quem iria querer tem um computador em casa?

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A empresa fundada com sua esposa: uma antiga casa perto da praia, onde funcionários não usavam ternos

Dois anos depois, em 1976, agora já desligado da Marinha, Kildall funda com sua esposa Dorothy McEwen a empresa de consultoria Intergalactic Digital Research (posteriormente rebatizada como Digital Research Inc – DRI), a fim de comercializar seu produto.

Em um sincronismo perfeito, aquele lance de estar no lugar certo e na hora certa, a DRI começa a divulgar o CP/M exatamente no momento da história em que o mundo dos computadores pessoais começava a desabrochar, com o lançamento do MITS Altair 8800, IMSAI 8080, Apple II, TRS-80, Commodore PET e toda a infinidade de microcomputadores que surgiriam na segunda metade dos anos 70.

A DRI pegava carona ainda no “desinteresse” dos fabricantes de computadores pelo desenvolvimento de softwares (incluindo SOs), que os viam neste momento como itens de segunda ou terceira categoria, optando por adquirir de terceiros soluções já prontas, como era o caso do CP/M. Eles não queriam se dar ao trabalho. 😁

Este mesmo “equívoco” de ver o hardware como parte mais importante dos computadores, e não o software, seria cometido anos depois pela IBM, com seu IBM PC.

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Um dos anúncios do sistema em revistas especializadas no fim da década de 70

E assim, com contratos com a maiorias destas empresas fabricantes de computadores, a DRI atingiria o estrelato, tornando-se um padrão “de fato” entre os computadores pessoais dos anos 70 e 80.

Grande parte do sucesso do sistema se devia ao seu próprio projeto, concebido de forma a ser facilmente portado para um novo hardware.

Isso era possível em função da existência de um módulo separado do sistema, responsável por todas as operações de “baixo nível” de Entrada/Saída (E/S), o famoso Sistema Básico de Entrada/Saída (BIOS), que podia ser reescrito para cada nova máquina, mantendo intacto todo o restante do sistema.

Pode parecer algo óbvio hoje em dia, mas o conceito de “BIOS”, concebido por Kildall em 1975, foi uma sacada genial pra época, sendo adotado no IBM PC quando do seu lançamento.

Cada fabricante podia assim adaptar o CP/M ao seu próprio hardware, sem precisar conhecer o restante do sistema.

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Anúncio da época

Kildall também adicionou ao CP/M um editor, um montador (de linguagem de máquina), depurador (debugador) e outros utilitários, tornando-o um sistema de desenvolvimento completo.

Esta “onipresença” do CP/M, em praticamente todos os computadores da época, alimentava a indústria de desenvolvimento de programas. Mais programas, tornavam o sistema ainda mais popular. E com maior popularidade, novos aplicativos surgiam a todo o instante, numa espiral crescente.

Sua interface de texto simples, baseada em linhas de comando, permitia aos usuários interagir de forma fácil com o sistema operacional e executar programas.

Isso incluía processadores de texto, planilhas eletrônicas e bancos de dados, tornando o CP/M uma plataforma versátil para uma grande variedade de tarefas, com programas e arquivos podendo ser facilmente compartilhados entre modelos de fabricantes distintos.

Além disso, o CP/M também se beneficiou da disponibilidade de periféricos compatíveis, com impressoras, discos rígidos e outros dispositivos sendo projetados para funcionar “especificamente” com o CP/M, o que aumentava sua utilidade e popularidade.

Outro recurso curioso também surgia nesta época.

Em sua versão original, o CP/M estava restrito aos computadores construídos com base nos microprocessadores Intel 8080 e suas variantes. Mas sua biblioteca de softwares era tão extensa, que outros modelos de computadores, baseados em processadores não compatíveis (como o Apple II), desejavam poder também surfar esta onda.

Eis que alguém teve a genial ideia: porque não instalamos uma “segunda” CPU no meu computador incompatível, para ele poder rodar CP/M?

E assim foi feito.

editor de textos WordStar 1
O famoso editor de textos WordStar

Um dos produtos de grande sucesso a oferecer esta possibilidade foi a placa de expansão SoftCard, o primeiro produto de “hardware” da então jovem Microsoft, que possibilitou que o Apple II executasse aplicativos CP/M populares, como dBase e WordStar.

Nos anos seguintes, o CP/M continuaria sendo desenvolvido, com números oficiais reportando a comercialização de mais de 250mil licenças, número possivelmente subestimado em função de várias empresas terem negociado o licenciamento “em volume”, sem o cômputo individual das unidades vendidas.

Microsoft SoftCard 1
A Microsoft SoftCard permitida executar o CP/M no Apple II

Estima-se ainda que mais de 3mil modelos diferentes de computadores tenham executado ao menos alguma versão do CP/M.

Após a criação das versões 1.2 e 1.3, produzidas em 1976 e 1977 para os computadores IMSAI 8080, a DRI lançaria em 1978 a versão 1.4, a primeira a ser utilizada de forma mais ampla e a ser vendida diretamente ao usuário final.

Mas seria com as versões 2.0/2.2 (1978/1979) que o sistema atingiria o ápice de sua popularidade, com uma explosão no número de fabricantes de hardware e desenvolvedores de softwares, acrescentando agora o suporte às unidades de disquetes de 5 ¼”.

Haveria ainda a versão 3.0, conhecida como CP/M plus, última versão do sistema destinada aos microcomputadores de 8 bits, lançada em 1983 e que teve a cientista da computação Kathryn Strutynski como principal desenvolvedora.

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Digital Research CP/M

Mas seu lançamento ocorria em um novo um cenário que começava a mudar as perspectivas de futuro da DRI.

Isso porque, dois anos antes, a gingante IBM havia lançado o icônico modelo IBM PC.

Mas por que o sistema operacional que “dominava” o mundo dos microcomputadores não estava agora presente no IBM PC????!?!?

De fato, quando a IBM cogitou desenvolver seu primeiro “PC”, nos idos de 1979, o CP/M foi a escolha lógica para ser “o” DOS do IBM PC, afinal, ele já tinha uma enormidade de aplicativos disponíveis.

O próprio Bill Gates (aquele mesmo, o da Microsoft), que também partilhava da mesma opinião, se empenhou pessoalmente em colocar a DRI em contato com a IBM, a fim de que as empresas conseguissem se acertar.

Nesta época, o objetivo da Microsoft era simplesmente vender seu BASIC e outros aplicativos, para que a IBM os comercializasse junto com o IBM PC… A Microsoft não era nesta altura um fabricante de sistemas operacionais.

Mas havia um problema…

O CP/M não rodava na nova CPU que a IBM tinha escolhido para empurrar o novo PC: o Intel 8088.

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A tardia versão CP/M-86 para PC

A DRI, que já vinha há algum tempo desenvolvendo a versão x86 do CP/M, prometia terminar o sistema a tempo para o lançamento do PC em 1981.

Só que, tendo sido originalmente anunciado para estar pronto em novembro de 1979, teve o lançamento adiado reiteradamente, não cumprindo nenhum dos prazos acordados com a Big Blue (a IBM).

É neste momento que, vendo que a IBM estava impaciente com a DRI, a Microsoft resolve oferecer o seu próprio DOS, que claro, eles também não tinham. Mas foram eficientes em encontrar uma versão pronta de um sistema criado pela empresa Seattle Computer Products, o QDOS ou 86-DOS, fortemente “inspirado” no….. CP/M. 😊

E assim, pouco tempo depois, o primeiro PC da história era lançado com o sistema operacional MS-DOS/PC-DOS… da Microsoft.

Era o início do fim do revolucionário sistema CP/M que, mesmo concluindo a versão CP/M-86 pouco tempo depois do lançamento do PC, pagou caro pela demora… nunca obtendo na plataforma PC o protagonismo de antes.

Tudo bem que a IBM deu aquela bela “puxada de tapete”, vendendo o CP/M-86 por US$ 240 e o MS-DOS por US$ 40… mas fazer o que… quem mandou arrumar briga com eles… 😊

Outras versões de 16 bits menos expressivas seriam também produzidas para computadores baseados na CPU Motorola 68000, o CP/M-68K, e para o Zilog Z-8000, o CP/M-8000, do computador Olivetti M20.

Fato é que CP/M influenciaria significativamente o desenvolvimento dos sistemas operacionais posteriores, como o Microsoft MS-DOS, que incorporaria sua estrutura, princípios e até mesmo os principais comandos.

Isso pode ser observado nas muitas das características introduzidas pelo CP/M podem ser vistas no MS-DOS: o prompt de comando, drives “A”, “B” e “C”, nomes de arquivos de oito + três caracteres, os coringas “*” e “?”, a extensão “.com” para programas executáveis, comandos “dir”, “type”, etc…

Mesmo com seu aparente insucesso, o CP/M deixaria um legado duradouro como um dos primeiros sistemas operacionais populares para microcomputadores.

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O IEEE Milestone in Electrical Engineering and Computing de 2014

Em abril de 2014, o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) reconheceu o desenvolvimento do CP/M como um IEEE Milestone in Electrical Engineering and Computing, concedendo a Killdall a honraria.

Agora, imaginem se a Digital Research tivesse firmado o acordo com a IBM, e o CP/M tivesse sido o SO do IBM PC… talvez a Microsoft nem existisse…

Para conhecer ou relembrar:

Experimente o CP/M em um computador IBM PC 5150 virtual, rodando diretamente em seu navegador, aqui neste endereço.


E você, usou alguma das versões do CP/M?

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Vídeo(s):

*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.

Como a Digital Research “quase” mandou no mundo dos PCs
Killdall, um do coapresentadores do programa Computer Chronicles, falava em 1984 sobre programação de computadores
Edição especial do programa Computer Chronicles após a prematura morte de Gary Kildall
Mais em:



*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.


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3 comentários

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  1. Totalmente demais essa matéria! Parabéns aos autores! Sou completamente apaixonado por computadores antigos, e tenho um TK 2000 desde 1996, que não funciona mais… 🙁

  2. I really enjoyed reading your blog post about the Digital Research CP/M operating system from 1974. It was interesting to learn about the history of this system and the people who created it. I’m glad you shared this information with us,