O telefone de ar comprimido de 1844
Em 12 de julho de 1844, o capitão da marinha real britânica J. N. Taylor apresentava seu telefone de ar comprimido.
Antes da invenção do sistema GPS nos anos 70, navegar em condições de baixa visibilidade sempre foi um dos grandes problemas dos veículos marítimos, onde embarcações dependiam enormemente de sinos ou cornetas operadas manualmente, que frequentemente eram pouco eficientes em sinalizar, de forma efetiva aos navios, sobre perigos próximos, como costas, rochedos ou mesmo outras embarcações.
Mas este cenário estaria por mudar no dia de hoje, quando o Capitão J. N. Taylor, da Marinha Real Britânica, apresentaria publicamente o dispositivo que ficaria conhecido como Telefone, Alarme Marítimo, Trombeta de Sinalização ou ainda Buzina de Neblina.
Este dispositivo, na época chamado de “telefone” (visto que permitia levar mensagens à longas distâncias) era movido a ar comprimido, produzindo um som de alta intensidade, capaz de viajar longas distâncias sobre a água ou terra.
O instrumento era formado por uma câmara, na qual o ar era comprimido por meio de bombas movidas por manivelas. Um conjunto de chaves tipo pistão comandavam válvulas que liberavam o ar-comprimido controladamente, produzindo o som desejado em uma das quatro cornetas.
A mensagem era criada por meio da geração de uma sequência específica de quatro notas musicais distintas (um código), produzidas sob o comando de um operador que era capaz de definir tanto a nota desejada quando sua duração, como se estivesse tocando um instrumento musical.
Assim, “códigos musicais” específicos eram definidos para representar letras, palavras, ordens ou qualquer outra informação que se desejasse.
Guardadas as devidas proporções, percebem a similaridade com os sistemas de codificação de sinais modernos? Sistemas que se utilizam de conjuntos de sinais sonoros (múltiplas frequências) para compor uma informação a ser transmitida, foram utilizados em ambientes computacionais e de telecomunicações por muitos anos (e até hoje por radiofrequência), cujo método é conhecido como Frequency-shift keying (FSK).
Isso foi uma evolução significativa em relação aos métodos anteriores, cujo design utilizava os princípios da acústica para garantir que o som penetrasse a densa neblina, fornecendo um sinal de alerta claro a quaisquer navios próximos, com maior confiabilidade e maior alcance.
A introdução da Fog Horn (corneta de nevoeiro) teve um impacto imediato e profundo na segurança marítima, que, ao fornecer um meio confiável de sinalização em baixa visibilidade, reduziu significativamente o risco de colisões e encalhes. Com o tempo, o uso das sirenes de nevoeiro tornou-se oficialmente padronizado, sendo instaladas em faróis, navios-farol e em diversas embarcações.
A edição de 19 de julho de 1844 do jornal londrino The Times reportou o fato histórico:
“Ocorreu há sete dias uma reunião no Almirantado, e entre os vários modelos… estava o instrumento telefônico do Capitão J. N. Taylor… O principal objetivo deste poderoso instrumento de sopro é transmitir sinais durante o tempo de neblina.
Também o Illustrated London News, em sua edição de 24 de agosto de 1844, registraria o evento, referindo-se ao telefone como um “alarum” (alarme) telegráfico.
Suas aplicações foram inúmeras, como transmitir sinais sonoros para embarcações no mar ou no porto, transmitir ordens de e para fortes e navios, evitar colisões no mar ou em ferrovias, transmitir ordens no campo de batalha (evitando que soldados se colocassem em risco ao precisarem se deslocar transportando documentos), informar sobre incêndios, geração de alarmes ou ainda como um meio de comunicação entre os palácios e entre membros da nobreza.
A Solrésol de Jean François Sudré
Mas a invenção deste “telefone” parece não ter sido “bem” do Capitão Taylor.
Isso porque 16 anos antes do feito de Taylor, em janeiro de 1828, um músico francês de nome Jean François Sudré apresentaria ao Institut de France um sistema concebido por ele para transmissão de quaisquer ideias ou pensamentos por meio de sons musicais, que ele chamou de “TÉLÉPHONIE”. Para tanto, criou uma espécie de “língua” musical que ele batizaria posteriormente como Solrésol.
Sua proposta foi tema de muitos experimentos, tanto na marinha francesa quanto em outros lugares. A fim de divulgar seu trabalho, o inventor francês teria visitado a Inglaterra em 1935, quando explicou seu método em uma reunião da Royal Society. Daí para a “invenção” de Taylor uma década depois foi só ligar os pontinhos.
Fato é que, nos registros históricos de linha inglesa, pouco (ou nada) se menciona de Sudré, creditando a concepção da ideia exclusivamente à Taylor.
Sudré escreveria ainda um livro, com toda a codificação de sua “língua musical”, o Langue Musicale Universelle, sugerindo inclusive seu uso por pessoas com deficiência auditiva (como uma linguagem de sinais), mas que só viria a ser publicado após sua morte, em 1865.
A íntegra deste livro você confere aqui neste endereço (edição original) e aqui (versão digital moderna).
E você, qual foi o dispositivo para comunicação mais curioso que já viu?
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Vídeo(s):
*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.
Mais em:
- O Sistema de Posicionamento Global Navstar GPS de 1978
- Langue Musicale Universelle – Jean François Sudré
- A fabricante de instrumentos musicais Roland Corporation de 1972
- A fita cassete K7 de 1963
- A TEAC Corporation de 1953
- O padrão MIDI de 1983
- O disco vinil Long-Play LP de 1948
- A Apple iTunes Music Store de 2003
- O aplicativo mp3 Nullsoft Winamp de 1997
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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