O computador Harwell CADET de 1955 – MCC - Museu Capixaba do Computador

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Em fevereiro de 1955, no Harwell Laboratory do Reino Unido, entrava em operação pela primeira vez o computador Harwell CADET, o primeiro a ser construído utilizando-se exclusivamente transistores.

Enquanto o mundo ainda se recuperava dos efeitos da Segunda Guerra Mundial e a tecnologia começava a moldar o futuro, um computador revolucionário surgia no Reino Unido: o Harwell CADET.

Desenvolvido no Atomic Energy Research Establishment (AERE) no Reino Unido, também conhecido como Harwell Laboratory, o Harwell CADET (Transistor Electronic Digital Automatic Computer, lido de trás pra frente 😊) foi o primeiro computador a operar exclusivamente com transistores na Europa (e provavelmente no mundo), abandonando as válvulas termiônicas que dominavam a computação até então, marcando uma transição crucial para a tecnologia de estado sólido, que viria a definir a era digital.

Importante lembrarmos que falamos de uma época em que os transistores tinham acabado se ser inventados, não havendo ainda muitas opções de tipos nem disponibilidade comercial em grande escala.

Concebido por Edward “Ted” H. Cooke-Yarborough (que também havia participado da criação do modelo anterior da AERE, o Harwell Dekatron de 1951), juntamente com uma equipe de engenheiros, o projeto do Harwell CADET se iniciaria ainda em 1953, quando os primeiros exemplares de transistores de ponto de contato começaram a aparecer lá pela terra da rainha e os primeiros circuitos experimentais foram criados pelos pesquisadores da instituição.

Da necessidade de se criar um computador mais confiável e estável, o Harwell CADET nasceria a partir uma unidade de memória do tipo tambor magnético, capaz de armazenar 65.535 bytes de dados, desenvolvida pelo National Physical Laboratory.

computador Harwell CADET 2 — Detalhe dos painéis de circuitos

A construção dos circuitos eletrônicos responsáveis pela leitura e escrita de dados nesta unidade de memória ficaria a cargo da equipe de Cooke-Yarborough, que utilizaria para tanto 324 transistores de ponto de contato (fornecidos pela empresa britânica Standard Telephones and Cables) e 76 transistores de junção.

Projetado para realizar cálculos complexos necessários em pesquisas científicas, especialmente no campo da energia atômica, operava com uma velocidade de relógio (clock) de apenas 58 kHz, a fim de evitar o uso de válvulas eletrônicas, visto que os transistores existentes na época ainda tinham dificuldades de operar em frequências mais elevadas.

Antes do CADET, os computadores eram construídos utilizando-se de válvulas termiônicas, que consumiam grandes quantidades de energia, geravam calor excessivo e tinham um alto índice de falhas. E eram exatamente nestes quesitos que os modelos transistorizados prometiam suplantar seus predecessores valvulados, reduzindo absurdamente o consumo de energia e a geração de calor, e aumentando em muitas vezes sua confiabilidade e vida útil.

Esta substituição das válvulas eletrônicas por transistores no Harwell CADET não traria, entretanto, grandes ganhos de performance, dado que sua velocidade era relativamente baixa em comparação com outros computadores “valvulados” da época. Os calculadores humanos habilidosos, ou “computadores” como eram chamados na época, eram capazes de realizar operações tão rápido quanto ele…

Contudo, esta mudança seria responsável por uma melhoria considerável na confiabilidade do sistema, sendo capaz de operar, ininterruptamente e sem falhas, por alguns dias no início de sua operação, e mais de 1000h já perto de ser aposentado. E era aí que entrava sua vantagem em relação aos humanos: nenhum indivíduo era capaz de trabalhar tão rápido e por tanto tempo sem parar para descansar, se alimentar ou fazer suas “necessidades”. 😊

Conta-se que certa vez o matemático Edmund Bartholomew “Bart” Fossey teria resolvido “desafiar” o Harwell CADET em sua capacidade de executar operações. Para tanto, sentou-se ao lado do computador com sua calculadora mecânica de mesa e pôs-se a realizar as mesmas operações que o CADET, seguidamente. Passados 30 minutos, Fossey ainda se mantinha focinho-a-focinho com o CADET, mas abandonou a disputa, exausto… A máquina, por sua vez, continuaria a brincadeira por dias, incansável… 😂

Apesar da importância do Harwell CADET como pioneiro na computação transistorizada, ele nunca viria a se tornar um produto comercial. Seu objetivo era testar a viabilidade dessa nova tecnologia, tendo como principal contribuição a de provar que os transistores poderiam substituir com sucesso as válvulas termiônicas.

computador Harwell CADET 3 — Jim Stephen com o CADET em 1955

O conhecimento adquirido com sua criação influenciaria diretamente o desenvolvimento de computadores mais avançados nos anos seguintes, como o IBM 608 de 1957, que se tornaria o primeiro “calculador” totalmente transistorizado disponível comercialmente.

O Harwell CADET teve uma vida útil relativamente curta, sendo desativado em 1960, pouco tempo depois da chegada do seu sucessor Ferranti Mercury, permanecendo relativamente obscuro apesar de sua importância histórica. Enquanto máquinas como o ENIAC e o UNIVAC ganharam mais destaque na narrativa da evolução dos computadores, o CADET acabou sendo ofuscado por seus contemporâneos mais famosos.

A adoção de transistores revolucionaria a indústria da computação, levando à criação, com o tempo, de computadores cada vez menores, mais rápidos e confiáveis, um avanço que seria essencial para o desenvolvimento da microeletrônica, permitindo que, décadas depois, os circuitos integrados e microprocessadores dessem origem aos computadores pessoais e dispositivos móveis modernos.

O Primeiro

Há, todavia, uma questão controversa sobre a “primeiritude” no uso de transistores na história mundial dos computadores…

E como diria Connor MacLeod, “Só pode haver um…”. ⚔️😉

Os norte-americanos do Bell Labs (da AT&T) afirmam que o primeiro computador transistorizado teria sido o deles, o TRADIC, apresentado em 1954. Mas infelizmente o TRADIC ainda usava válvulas eletrônicas para fornecer os 30 watts de potência necessários ao seu sistema de relógio (clock) de 1 MHz, dado que ainda não existiam no mercado transistores capazes de fornecer essa potência, nessa alta frequência. Logo, não era “totalmente transistorizado”.

Os britânicos da Universidade de Manchester, por sua vez, garantem que o primeiro computador transistorizado foi criado por eles, o Manchester TC, apresentado em 1953. Novamente temos que ressalvar o fato de que a construção da sua unidade de memória tipo tambor magnético lançou mão de válvulas eletrônicas, pelo mesmo motivo da limitação de resposta em frequência do TRADIC. Desta forma, não era 100% construído com transistores.

Assim, “ao pé da letra”, o único computador capaz de receber o título de “primeiro computador totalmente transistorizado”, seria de fato o Harwell CADET! Até que se prove o contrário. 😊

E você, qual foi o primeiro dispositivo transistorizado de que se lembra?

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Vídeo(s):

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Cientistas visitam as instalações nucleares de Harwell em 1955

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*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.

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