O MEMEX de 1945

Em julho de 1945, o engenheiro Vannevar Bush publicava o artigo As We May Think, onde descreveria o revolucionário dispositivo de armazenamento e pesquisa de dados MEMEX, precursor do conceito de hipertexto.
Publicado na edição de julho de 1945 da revista norte-americana The Atlantic Monthly, o artigo especulativo intitulado “As We May Think”, assinado por Vannevar Bush (um dos mais influentes engenheiros e administradores científicos dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial), apresentava ao público o conceito de um dispositivo chamado MEMEX, uma máquina hipotética que se tornaria um marco teórico essencial na história da tecnologia da informação, servindo de inspiração direta para o hipertexto, os navegadores web e a internet moderna.
O MEMEX (uma contração de Memory Expansion, ou “expansão de memória”) foi uma proposta de dispositivo teórico que revolucionaria a forma como os humanos armazenam, acessam e conectam informações, pensado por Bush como uma espécie de “escrivaninha eletrônica sofisticada” (uma “área de trabalho? 😊), equipada com telas translúcidas, controles mecânicos e um vasto sistema de microfilmes interligados, no qual o usuário poderia ter armazenadas bibliotecas inteiras de livros, jornais, documentos e anotações pessoais.

Utilizando-se de mecanismos eletromecânicos (como botões, alavancas e seletores), seu usuário seria capaz de acessar (ou “navegar”) e interligar os conteúdos armazenados de forma rápida e personalizada. Câmeras e sistemas ópticos embutidos, permitiriam ainda ao usuário incluir novas informações, copiar trechos, adicionar notas e montar sequências temáticas interligadas.
Cada pessoa poderia, assim, construir suas próprias “trilhas associativas” conectando informações distintas, em um modelo que antecipa o conceito moderno de links de hipertexto (hiperligações ou hiperlinks). A proposta ainda previa que múltiplos MEMEXes pudessem vir a compartilhar trilhas de conhecimento entre si, uma ideia precursora dos sistemas colaborativos em rede.
A operação proposta era incrivelmente visionária. O MEMEX também poderia ter reconhecimento de voz e capacidades de anotação automatizada, previsões surpreendentes para a década de 1940. Bush imaginou que acadêmicos e profissionais o usariam para expandir a memória humana, construindo redes de conhecimento interconectadas.
Apesar de sua relevância, o MEMEX nunca viria a ser construído. Isso se deve a uma combinação de fatores técnicos e históricos. Embora tecnicamente viável, visto que seu funcionamento técnico se apoiava em tecnologias que já existiam na década de 1940, como microfilmes e sistemas mecânicos de indexação, o projeto exigia um grau de miniaturização, automação e integração óptica que estava além das capacidades industriais do período imediatamente pós-guerra.

Além disso, na segunda metade dos anos 40, o foco da pesquisa tecnológica nos Estados Unidos vinha migrando rapidamente para o desenvolvimento de computadores eletrônicos digitais, como o ENIAC, que se mostravam muito mais promissores para tarefas de cálculo e automação de processos.
Embora o MEMEX tenha permanecido como uma proposta conceitual, tornando-se um dos experimentos mentais de conjectura mais influentes da história da computação, seu “DNA” aparece em quase toda a computação moderna. Ele é frequentemente mencionado em livros e artigos, aparecendo como uma das primeiras manifestações conscientes de como o conhecimento e o intelecto humano poderiam ser estendidos por máquinas, não apenas em capacidade de cálculo, mas sobretudo na organização da memória e da criatividade.
Ted Nelson creditaria a Bush a inspiração para o conceito de hipertexto proposto por ele nos anos 1960. O sistema oN-Line System (NLS) de Douglas Engelbart também referenciaria diretamente suas ideias. Os navegadores de internet com abas, os links da Wikipedia e até os gráficos de conhecimento impulsionados por IA de hoje cumprem aspectos da visão do MEMEX.

A importância histórica do MEMEX está em seu papel como ponto de inflexão no pensamento sobre as formas de organização e acesso a informações. Vannevar Bush formulou, com precisão impressionante para sua época, questões que viriam a dominar o campo da informática no século XX, do tipo: como armazenar grandes volumes de informação? Como permitir que humanos naveguem entre dados de forma intuitiva? Como registrar e compartilhar conhecimento pessoal de maneira duradoura? O próprio termo “trilha associativa” anteciparia de forma direta os links da World Wide Web, conceito que Tim Berners-Lee transformaria em realidade apenas em 1989.
A proposta ocupa um lugar simbólico semelhante ao de dispositivos como o Antikythera, a Máquina Analítica de Babbage ou a Máquina de Turing, projetos pioneiros que, embora não tenham sido concretizados em sua época, abriram o caminho inúmeras transformações futuras.
A título de curiosidade, Bush, o então professor do departamento de Engenharia Elétrica do Massachusetts Institute of Technology (MIT), juntamente com seus colegas Laurence K. Marshall e Charles G. Smith, haviam fundado, em 1922, a American Appliance Company, posteriormente rebatizada como Raytheon, uma das gigantes do ramo da eletrônica e de sistemas de defesa.
Para conhecer ou relembrar:
Íntegra do artigo original:
Republicação na revista Life, do mesmo ano:
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Vídeo(s):
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