A empresa Commodore International de 1954
Em 1954, nascia aquela que viria a se tornar uma das mais icônicas empresas de computadores da história, a Commodore International.
A história da Commodore International, anteriormente Commodore Business Machines, é um daqueles casos em que a linha do tempo da empresa se confunde com a própria história da tecnologia, com uma jornada fascinante que abrange décadas de inovações.
Fundada na cidade canadense de Toronto em 1954 pelos empresários Jack Tramiel e Manfred Kapp, esta lendária empresa começaria sua jornada comercializando máquinas de escrever, calculadoras mecânicas e móveis para escritórios.
Passados 4 anos, com o surgimento de uma oportunidade de negócio para importar para o Canadá máquinas de escrever portáteis fabricadas por uma empresa tcheca, em 10 de outubro de 1958 Tramiel e Kapp incorporavam a Commodore Portable Typewriter Ltd, na cidade de Toronto.
Poucos anos depois, no início da década de 1960, com seu mercado em declínio face à forte competição dos produtos japoneses, decide iniciar a produção de calculadoras eletrônicas, cujos circuitos eram baseados em chips produzidos por outra gigante norte-americana da tecnologia, a Texas Instruments (TI), obtendo enorme sucesso comercial.
Tudo ia bem para a empresa até que, em 1975, a TI resolveria ela própria começar a produzir e comercializar calculadoras, a preços mais baixos que os das empresas para as quais ela vendia os chips… em suma… matou o negócio de calculadoras de todos seus antigos clientes de uma vez. Incluindo a Commodore.
Percebendo mais uma vez seu negócio indo por água abaixo, em uma ousada manobra, Jack Tramiel, então presidente da Commodore, tentando reaver sua competitividade no mercado de calculadoras, adquire a fabricante de chips estadunidense MOS Technologies em setembro de 1976, levando junto sua infraestrutura, pessoal (leia-se Chuck Peddle, designer de chips da MOS), patentes e, claro, o processador MOS 6502 (que também equiparia futuramente o computador Apple II).
Foi quando Chuck Peddle, agora funcionário da Commodore, convence Tramiel a deixar as calculadoras de lado, investindo numa “tendência” que começava a surgir: os microcomputadores.
Chegariam a buscar no mercado algum projeto de computador para adquirirem, mas sem sucesso. Conta-se que ninguém menos que Steve Jobs teria oferecido o projeto do Apple II para eles, mas que o valor pedido por Jobs teria sido muito alto.
Já imaginou se o Apple II tivesse sido da Commodore?!?!😯
O Commodore PET
Era a oportunidade de Peddle levar finalmente adiante seu projeto do PET (Personal Electronic Transactor), um dos primeiros computadores pessoais “de massa” disponíveis comercialmente.
Diferentemente dos seus antecessores (como o Altair 8800 e o IMSAI 8080), que eram vendidos na forma de kits para montar (restringindo seu público aos “iniciados” na arte da eletrônica), o Commodore PET chegava “pronto” para o usuário, o que ampliava enormemente seu alcance de mercado.
Apresentado publicamente em janeiro 1977, o Commodore PET foi uma família de computadores no estilo “all-in-one” (tudo em um), que formaria, junto com Apple II e o TRS-80, aquela que ficaria conhecida como “Trindade de 1977”, estabelecendo as bases para do mercado de computadores pessoais que se iniciava.
Nas décadas seguintes, sob a liderança visionária de Tramiel, a Commodore se transformaria em uma das pioneiras na revolução dos computadores pessoais, produzindo diversos modelos da linha Commodore PET e passando a ser reconhecida mundialmente como uma empresa de “informática”.
O Commodore VIC-20
A Commodore inovaria novamente com o lançamento, em maio de 1981, do microcomputador Commodore VIC-20, um computador doméstico de 8 bits que, apesar do design diferenciado, era tido como membro da família PET.
Mas nem tanto.
Isso porque trazia consigo o inovador chip VIC (Video Interface Chip), que passava a assumir diversas operações internas do computador, como o processamento de áudio e vídeo (agora colorido), controle de acesso direto à memória (DMA), portas de conversão analógico-digital e operação de uma caneta óptica, aumentando enormemente a capacidade do microcomputador.
Com os atrativos de gerar gráficos coloridos e ter um preço baixo, o Commodore VIC-20 foi um sucesso imediato, chegando ao espantoso número de 9 mil unidades fabricadas ao dia em sua melhor fase.
O Commodore 64
O verdadeiro divisor de águas surgiria em agosto de 1982, com o lançamento do Commodore 64, um computador doméstico de 8 bits acessível e poderoso, que rapidamente se tornaria um fenômeno global, impulsionando a popularização da computação pessoal e estabelecendo a Commodore como uma força a ser reconhecida na indústria.
Com ele, a Commodore não só dominaria o mercado, mas também inspiraria gerações de entusiastas em tecnologia e desenvolvedores de software.
Foi sem dúvida um dos computadores mais populares de todos os tempos, com participação de mais de 30% no mercado estadunidense, tendo vendido mais de 17 milhões de unidades em todo mundo e dispondo de uma biblioteca com mais de 10.000 softwares desenvolvidos.
O Commodore 64 produziria ainda diversos descendentes como o Commodore MAX (versão de baixo custo focada em jogos), SX-64 (versão transportável com monitor e unidade de disco integrados), PET/Educator 64 (versão desktop com monitor integrado destinada ao mercado educacional), C64 Games System (console de videogame baseada no C64) e C64C (versão com gabinete modernizado no estilo do modelo C128).
Batalha com a Texas Instruments
O Commodore 64 seria também “palco” para uma épica batalha comercial que entraria para a história do mercado de computadores.
Talvez engasgada com a “pernada” levada lá em 1975, a Commodore iniciaria em uma disputa de preços com os microcomputadores TI-99/4A da Texas Instruments (TI), levando seu preço a cair dos US$ 1.150 (quando do lançamento em 1979) para incríveis US$ 49, fazendo com que a Texas Instrument, reconhecendo a derrota, abandonasse o segmento de computadores em 1983.
O troco da 1975 havia sido dado. 😊
Mas esta guerra faria também outras vítimas…
Crash dos videogames
Outra “contribuição” do Commodore 64 (e do VIC-20) foi a de “exterminar” o mercado de videogames estadunidense no ano de 1983.
Isso porque, em função de uma excelente estratégia de marketing, o Commodore 64 foi capaz eliminar a então existente fronteira entre os videogames e os computadores.
“Porque comprar um videogame se você pode ter um computador?”, diziam seus anúncios.
Isso fez com que as pessoas passassem a adquirir computadores (muito mais poderosos e flexíveis) no lugar de videogames, produzindo, sem sombra de dúvidas, uma grande influência no surgimento do fenômeno que ficaria historicamente conhecido como o “crash dos videogames” de 1983, que faria o mercado de consoles norte-americano entrar em colapso, mergulhando numa profunda recessão. Só ressurgindo anos depois graças a um certo encanador italiano de bigode.
O Commodore Plus/4
Buscando dar um passo adiante em sua linha, lançaria em junho de 1984 seu modelo de 8bits Commodore Plus/4, que chegava com a difícil missão de suceder ao Commodore 64.
Com uma CPU mais potente, trazia embutidos em sua memória ROM quatro aplicativos básicos (daí o nome plus/4): editor de textos, planilha eletrônica, banco de dados e editor gráfico.
Mas sua total incompatibilidade com seu antecessor faria dele um fiasco comercial.
O Commodore 128
A empresa produziria ainda um último modelo com uma arquitetura de 8bits, tentando novamente substituir o bem-sucedido Commodore 64, ao mesmo tempo em que se colocava como adversário do Apple Macintosh e do IBM PC: o Commodore 128.
Anunciado em janeiro de 1985, embora tenha obtido razoável sucesso, não foi páreo para os concorrentes da família Atari ST, lançados pouco depois.
O Commodore AMIGA
Mas a Commodore tinha uma nova carta guardada na manga para a próxima jogada… o revolucionário microcomputador Commodore Amiga.
Lançado em julho de 1985, tratava-se de um avançado microcomputador de 32 bits que dispunha de recursos gráficos multicoloridos e capacidade sonora muito à frente do seu tempo, isso apenas um ano depois do lançamento do monocromático Macintosh da Apple. Que, por sinal, utilizava o mesmo microprocessador Motorola 68000.
Talvez nem a Commodore tenha entendido o que tinha criado na época com o Amiga: o primeiro computador multimídia do mundo, visto que tinha recursos avançados para manipular, simultaneamente, gráficos, sons e vídeo.
Commodore PC
Não querendo ficar de fora da festa e aproveitando a força de sua marca, a empresa ainda se aventuraria no universo dos PCs, lançando em abril de 1984 seu próprio IBM PC Compatível.
Apresentado durante a feira de Hanover na Alemanha, tratava-se de uma versão com tela monocromática padrão MDA muito similar ao modelo IBM original, mas algumas melhorias como memória RAM de 512KB de séria, portas serial e paralela integrada na placa mãe (liberando slots de expansão), bem como espaço disco rígido.
Diversos modelos foram produzidos entre 1984 e 1991, incluindo laptops.
Commodore 900 (Commodore Z-8000)
Durante o mesmo evento na Alemanha em abril de 1984, a Commodore apresentaria ainda sua nova aposta com um sistema baseado no microprocessador de 16bits Zilog Z-8000, o Commodore 900 (CBM 900), também conhecido como Commodore Z-8000 ou Commodore Z-Machine.
Adotando uma conceito similar ao modelo italiano Olivetti M20, o Commodore Z-8000 foi pensado para o segmento corporativo, com versões tipo “estação de trabalho”, para utilização de sistema de Desenho Assistido por Computador, ou tipo “servidor de terminais”, que prometia suportar até 8 usuários simultâneos rodando uma das variantes do sistema operacional UNIX.
Teve seu projeto abandonado face à incapacidade da empresa em produzir muitos modelos distintos. Apenas cinquenta protótipos foram fabricados e comercializados como sistemas de desenvolvimento, ao preço de US$ 4.000, antes do projeto ser cancelado.
O Declínio
No entanto, apesar de seu enorme sucesso e de lucros estratosféricos, a partir de meados dos anos 80 a Commodore começaria a se deparar com desafios significativos.
O principal deles estava relacionado à gestão da empresa, que enfrentaria disputas por seu controle que desencadeariam na renúncia de Tramiel em 14 de janeiro 1984, momento em que a empresa atingia seu auge, faturando horrores.
Pouco tempo depois, em julho de 1984, Tramiel, agora fora da Commodore, adquiriria a quase falida divisão de consoles e computadores da Atari, recuperando seu mercado e lançando, no ano seguinte, o histórico computador Atari ST.
Mas mesmo com o novo fôlego adquirido com o lançamento do Commodore Amiga em 1985, a concorrência acirrada e mudanças no mercado, que incluíam o lançamento de PCs com recursos equivalentes, levariam a empresa a dificuldades financeiras que culminariam em seu pedido de falência de 29 de abril de 1994, marcando o fim de uma era.
E o Commodore 64, embora já velhinho e ultrapassado, permaneceu sendo comercializado até o último dia de funcionamento da empresa.
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Vídeo(s):
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Mais em:
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- O microcomputador Commodore PET de 1977
- O microcomputador TRS-80 modelo I de 1977
- O computador Altair 8800 de 1974
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- O microcomputador Commodore 64 de 1982
- O microcomputador Texas Instruments TI-99/4 de 1979
- O microcomputador Texas Instruments TI-99/4A de 1981
- O microcomputador Commodore Plus/4 de 1984
- O microcomputador Commodore 128 de 1985
- O protótipo do computador Amiga de 1983
- O microcomputador Commodore Amiga de 1985
- O microcomputador Apple Macintosh de 1984
- O microprocessador Motorola 68000 de 1979
*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.
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