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Em de junho de 1984, a norte-americana Apple Computer lançava a primeira versão do seu lendário pacote de produtividade AppleWorks.

Com o seu computador Apple II em franca ascensão, a Apple vinha há algum tempo incomodada com o fato de autores de aplicativos de sucesso, como o AppleWriter (editor de textos), VisiCalc (planilha eletrônica) e DB Master (bando de dados), virem ganhando com seus os softwares mais dinheiro do que a empresa da maçã mordida achava que mereciam.

O próximo passo natural seria integrar estes aplicativos em um mesmo pacote, criando o que ficaria conhecido como “pacote de produtividade“, um tipo de sistema que aglutina, num só ambiente, múltiplas ferramentas úteis ao dia a dia de profissionais e demais usuários de computador.

Insatisfeita, embora reconhecesse que muito do sucesso do Apple II se devia à existência destes aplicativos, vinha tentando criar seu próprio pacote de produtividade, de forma a oferecer ela própria estas soluções.

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QuickFile: a origem

Eis que surge o programador Rupert J. Lissner, que em 1980 desenvolveria o sistema de banco de dados Quick File, produzindo e comercializando versões para os computadores Apple II e Apple III. Era o “embrião” daquele que viria a ser um dos grandes “hits” da empresa.

Algum tempo depois, Lissner conheceria na Apple o novo sistema operacional Office System do computador Apple Lisa, uma das primeiras interfaces gráficas de usuário comercialmente disponíveis ao público em geral.

Inspirado pelo que havia visto no Lisa, teria a genial ideia de adicionar ao Quick File as funcionalidades de editor de texto e planilha, criando (depois de quase 2 anos de trabalho) um novo sistema que ele batizaria como Apple Pie. Era tudo que a Apple esperava, tratando rapidamente de comprar os direitos de distribuição do sistema, passando ela própria a comercializá-lo.

O AppleWorks entra em cena

Nascia assim o AppleWorks, um dos primeiros “pacotes integrados de produtividade” para computadores pessoais, direcionado pela empresa ao seu icônico microcomputador Apple II.

Pra não dizer que foi o primeiro, houve antes dele um aplicativo denominado The Incredible Jack, lançado pela empresa Business Solutions em 1983, mas que não sobreviveu à concorrência com a Apple. Outras fontes alegam, entretanto, que o primeiro teria sido o StarBurst da MicroPro International, que incluía o WordStar, CalcStar e DataStar, mas que aparentemente nunca chegou ao mercado.

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Tela de inicialização da versão 1

Combinando funcionalidades de processador de texto, planilha eletrônica e banco de dados em um único aplicativo, foi uma inovação significativa na época, tornando-se um dos primeiros pacotes “Office” da história. 😊

O aplicativo AppleWorks se destacava por sua interface amigável baseada em barras de menu, que integrava os três tipos de aplicativos em um só ambiente (utilizando comandos e teclas semelhantes), permitindo aos usuários copiar e colar dados entre os ambientes sem sair do programa. Isso facilitava enormemente tarefas como a criação de relatórios complexos, que exigiam dados tratados em diferentes fontes.

Esta interface de usuário unificada tornava ainda o aprendizado e o uso do sistema muito mais ágil, quando comparada aos softwares anteriormente existentes, onde cada um possuía comandos e atalhos de teclado muito diferentes uns dos outros.

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A prática interface de usuários baseada em um menu de barras

O uso de aplicativos distintos trazia ainda outro inconveniente ao usuário: a incompatibilidade entre os formatos de arquivos de dados. Isso tornava extremamente complexa (até mesmo impossível) a tarefa de transferir informações de um programa para outro, o que a abordagem unificada do AppleWorks tirava de letra.

Outra característica distintiva era que, diferentemente dos aplicativos anteriores, criados para os modelos Apple II com tela de 40 colunas e 48KB de memória RAM, o AppleWorks foi projetado tendo em vista os novos modelos do micrinho, capazes de exibir textos em 80 colunas e municiados de maior capacidade de memória.

Seu inovador sistema de gerenciamento de memória era inteligentemente flexível, sendo capaz de lidar não apenas com os 64KB de memória básicos exigidos, mas também com diversos modelos de cartões de expansão de memória disponíveis no mercado, transferindo automaticamente os dados entre o disco e a memória RAM conforme a necessidade.

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Processador de textos

Acerca dos seus módulos, o Processador de Texto oferecia funcionalidades básicas de edição, formatação e impressão, competindo com outros programas da época. Sua Planilha Eletrônica permitia cálculos automáticos e análise de dados, uma ferramenta poderosa que trazia as possibilidades do VisiCalc às pequenas empresas e instituições de ensino. Por fim, o Banco de Dados facilitava a organização e a manipulação de grandes quantidades de dados, com capacidades de pesquisa e ordenação.

Mercado

Sucesso imediato, alcançaria em apenas um mês “topo das paradas” de vendas, vindo a se tornar o aplicativo mais vendido entre todos os computadores! Isso mesmo, até mais que o lendário Lotus 1-2-3 para o IBM PC.

Isso se torna ainda mais curioso se considerarmos o fato de que a Apple havia lançado, meses antes, sua menina dos olhos, o Macintosh, propositalmente não investindo em nenhuma promoção comercial de nada que estivesse relacionado ao Apple II. Mas apesar disso, seu agora “filho enjeitado” (o Apple II) continuava a prosperar, a despeito de todos os esforços contra.

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Banco de Dados

O AppleWorks rapidamente se tornaria popular entre usuários do Apple II devido à sua versatilidade e facilidade de uso. A integração das três funcionalidades principais economizava tempo e recursos, eliminando a necessidade de adquirir e aprender a usar múltiplos programas separados. Esse software foi especialmente bem recebido no setor educacional e em pequenas empresas, onde a simplicidade e a eficiência eram cruciais.

Evolução

Ao longo dos anos, mesmo que aos trancos e barrancos, o AppleWorks passaria por várias atualizações e evoluções.

Sua primeira atualização chegaria já no ano seguinte, a versão AppleWorks 1.1, com adequações que resolveriam algumas incompatibilidades com impressoras e placas de interface não produzidas pela Apple.

No mesmo ano seria a vez da versão AppleWorks 1.2 desembarcar, novamente possibilitando o uso de dispositivos de hardware não-Apple. Tendo em vista se tratarem de mudanças pequenas, basicamente correções, estas versões foram fornecidas gratuitamente aos usuários que já haviam adquirido anteriormente o aplicativo.

Passado mais um ano, em 1986, era apresentada a versão AppleWorks 1.3. Era a primeira versão que introduzia efetivamente alguma “novidade”, possibilitando, por exemplo, usufruir do benefício das unidades de disco de maior capacidade.

Outra novidade era o suporte a uma maior quantidade de RAM, beneficiando-se das novas placas de expansão que elevavam a memória do lendário micrinho de 8bits à espantosa casa dos Megabytes, ampliando o volume de dados que o aplicativo era capaz de manipular.

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Alguns dos pacotes de distribuição das versões para o Apple II

Com o lançamento do novo modelo de computador Apple IIGS, chegava também a versão AppleWorks 2.0, exigindo agora no mínimo 128KB de memória RAM para funcionar.

Esta exigência extra, contudo, trazia a contrapartida da nova funcionalidade de mala direta, ao mesmo tempo que acrescentava ainda mais funções à planilha e oferecia compatibilidade com novos modelos de expansões de memória que surgiram no mercado. Ampliou também os limites de tamanho dos arquivos usados pelos módulos de processamento de texto, banco de dados e planilhas.

Surge a Claris

Administrando questionamentos internos que dividiam as opiniões acerca do fato da Apple “dever” ser ou não uma empresa de software, decidem fundar a empresa subsidiária Claris em julho de 1987, que passaria a ser a responsável por gerenciar a produção e comercialização dos aplicativos da empresa, tanto da plataforma Apple II quando do Macintosh.

A Apple Computer (posteriormente Apple Inc) passaria assim a atuar exclusivamente nos negócios de hardware e sistemas operacionais, com os direitos, códigos fontes e tudo associado aos softwares Apple passando às mãos da Claris.

A primeira atualização sob a nova bandeira da Claris seria a versão AppleWorks 2.1, uma atualização gratuita de setembro de 1988 que trazia correções de bugs e a capacidade de suportar até espantosos 8MB de memória RAM.

Mas mesmo com o Macintosh aparentemente “bombando”, a Claris não podia deixar de lado a mina de ouro que era o AppleWorks para o Apple II. Precisavam apresentar novidades para manter o aplicativo vivo.

Consultaram primeiramente seu autor original, Rupert Lissner, sobre o interesse dele em desenvolver uma nova versão, que prontamente disse não à empresa, visto que já estava com os bolsos cheios de dinheiro. 🙂

Restava à Apple procurar no mercado uma empresa interessada nesta empreitada. Surge assim a Beagle Bros, que havia criado o software de sucesso TimeOut, que estendia as funcionalidades do AppleWorks dando a ele diversas novas ferramentas.

Após um ano de trabalho dos programadores Alan Bird, Randy Brandt e Rob Renstrom, surge em junho de 1989 a nova versão AppleWorks 3.0, repleta de novidades, que incluíam um corretor ortográfico embutido e a correção de dezenas de bugs do famoso aplicativo.

Estas mudanças viriam, contudo, ao custo do aumento do tamanho do aplicativo, que ocupava agora dois disquetes de 5 ¼” em vez de um, e da redução da memória de trabalho, que caiu de 55KB para 40KB nos computadores que só dispunham de 128KB de RAM.

Mas no mesmo ano de 1989 a Claris resolveu direcionar todos os seus esforços no desenvolvimento de aplicativos para as plataformas Macintosh e Windows, praticamente abandonando o Apple II.

Entra em cena a empresa Quality Computers, que após uma longa negociação de licenciamento dos direitos do AppleWorks, lançaria em 1º de novembro de 1993 a versão AppleWorks 4.0, que foi seguida de alguns upgrades de correções de bugs.

Sobre a tutela da Quality Computers, seriam ainda produzidas as versões AppleWorks 5.0 (novembro de 1994) e AppleWorks 5.1 (1995).

Além do Apple II

É claro que algo tão bom não tardaria a chegar em outras plataformas.

Em outubro 1991, uma versão para o Macintosh seria finalmente lançada. Batizada como ClarisWorks, incluía as funcionalidades de processador de textos, planilha eletrônica, banco de dados, ferramenta de desenho e pintura, terminal de acesso remoto e aplicativo para apresentações. Tudo integrado e compartilhando dados entre si. Novamente um estrondoso sucesso, agora no Mac. 🙂

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Uma das versões do ClarisWorks para o Macintosh

Terias ainda as versões ClarisWorks 2.0 (24 de março de 1993), ClarisWorks 3.0 (outubro de 1994) e ClarisWorks 4.0 (14 de junho de 1995).

Após a “reincorporação” da Claris pela Apple em 1998, o programa seria novamente rebatizado, retornando ao seu nome original AppleWorks, agora em sua versão AppleWorks/ClarisWorks 5.0, última “versão maior” a suportar os microprocessadores Motorola 68000, que equiparam a linha Macintosh por muitos anos.

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Uma das últimas versões para o Macintosh, de volta ao nome original

Sua versão derradeira, a AppleWorks 6.0, chegaria em janeiro de 2000, exigindo agora um Mac equipado com um microprocessador PowerPC, como os modelos das linhas iMac e PowerMac.

E nem mesmo a Microsoft ficaria fora da “onda Works”. 😊

Tentando repetir o sucesso do AppleWorks, no ano do lançamento do Macintosh, Rupert Lissner (o criador do AppleWorks), juntamente com seu parceiro Don Williams (ex-funcionário da IBM), fundariam a empresa Productivity Software e iniciariam o desenvolvimento de uma “versão” do AppleWorks para o novo Mac, batizado por eles como MouseWorks.

Só que, de olho na oportunidade de ganhar um bom dinheiro com o aplicativo de sucesso do Apple II, ninguém menos que a Microsoft convenceria a dupla de desenvolvedores a licenciar o sistema para que ela própria pudesse comercializá-lo, “mirando” agora especialmente a plataforma PC.

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O “abusado” Microsoft Works, para o Macintosh

Deste acordo, surgiria assim o aplicativo Microsoft Works, que teria diversas versões, tanto para o sistema MS-DOS, quanto para o posterior Microsoft Windows, tendo por base a trinca de sucesso “processador de texto, planilha eletrônica e sistema de gerenciamento de banco de dados”.

Mas pasmem, a primeira versão dele foi, de fato, para o Macintosh. 😊

Claro que a Apple não ficaria nada contente com a Microsoft lançando um “Works” para o Mac. Contra-atacaria em 1991 lançando o ClarisWorks também para o sistema Microsoft Windows. ⚔️

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A Apple devolvia o “favor”, lançando o ClarisWorks, para o Windows
O fim

No início de agosto de 2007, usuários perceberam que o site da Apple havia começado a redirecionar todos os acessos à página do AppleWorks para a do aplicativo iWork. Silenciosamente, a lenda AppleWorks estava sendo finalmente enterrada pela empresa, depois de mais de 2 décadas de sucesso.

Criado para ser o sucessor do AppleWorks, o Apple iWork havia sido lançado em 11 de janeiro de 2004 , vindo a ser suportado pelos sistemas MacOS, iPadOS, e iOS.

Embora o desenvolvimento do AppleWorks tenha cessado em 2007, seu impacto no mercado de software de produtividade foi significativo, sendo reconhecido como um dos primeiros grandes sucessos da Apple neste segmento, demonstrando a importância de interfaces amigáveis e da integração de funcionalidades em aplicações de software.

Mesmo tendo sido um dos programas de computador mais vendidos de todos os tempos, poucos parecem se lembrar da enorme influência que ele teve no universo dos computadores pessoais, o que pode ser claramente percebido pela enxurrada de aplicativos com o sufixo “Works” em seus nomes criados depois dele, como o Microsoft Works, IBM Works, ClarisWorks, Beagle Works e muitos outros. 😊


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Vídeo(s):

*legendas disponíveis nos controles do Youtube, na opção “⚙ >> Legendas/CC >> Traduzir automaticamente”.

Videotreinamento do AppleWorks 2
Melhorando o AppleWorks
Explorando o AppleWorks 4
O ClarisWorks 5 para o Macintosh
O AppleWorks 6 para Windows
Mais em:



*As imagens utilizadas nesta postagem são meramente ilustrativas e foram obtidas da internet.


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